No domingo, 10, Rogério Duarte completou 77 anos. Na quarta à noite, 13, morreu no Hospital Santa Lúcia, em Brasília, cidade em que vivia. Rogério era baiano – nasceu em Ubaíra – e a causa da morte não foi divulgada. Arista gráfico dos grandes, foi o criador da estética visual da Tropicália. Não por acaso, colaborou com – e era amigo de – artistas como Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil.

Suas capas para discos dos novos baianos entraram para a história, mas a associação mais famosa foi com Glauber Rocha. Para Glauber Rogério criou os cartazes de Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe e A Idade da Terra. No último, foi além do aspecto gráfico. Criou também a trilha sonora, com sua rica utilização dos ruídos.

Rogério era irmão de Ronaldo Duarte e, nos anos 1960, houve um movimento da classe artística para salvar os ‘irmãos Duarte’. Rogério e Ronaldo foram presos e torturados durante a ditadura. Rogério foi dos primeiros a denunciar a violência do regime. No antigo Correio da Manhã, uma carta coletiva, assinada por grandes nomes das artes no País, desencadeou o movimento de solidariedade para resgatar os irmãos.

Após a prisão e, em pleno AI-5, Rogério, como gostava de dizer, enlouqueceu completamente. Ficou introspectivo, ingressou numa fase mística. Estudou sânscrito e iniciou a tradução dos escritos de Bhagavad Gita. O livro foi lançado anos mais tarde com o título de A Canção do Divino Mestre. Acompanhava o volume um CD. Rogério Duarte publicou também um livro de memórias, Tropicaos, em que reavalia tudo – sua passagem pela clandestinidade, a prisão, a tortura e o Tropicalismo. Embora citado sempre – e reverenciado – como artista visual, Rogério Duarte foi um homem renascentista, de múltiplos talentos. Músico, poeta, compositor, professor.

Amigo de Hélio Oiticica, foi quem o aproximou de Caetano. Como um dos pais intelectuais da Tropicália, colocou tudo no mesmo caldeirão – modernismo, antropofagia. Fez da sua arte uma forma de guerrilha cultural. Hoje, que tudo isso pertence à História, suas capas e pôsteres continuam belos e inovadores como há 50 anos.