Após missa de corpo presente realizada na Catedral da Sé, no centro de São Paulo, celebrada pelo bispo emérito de Blumenau d. Angélico Sândalo Bernardino, foi cremado nesta quinta-feira, 5, no cemitério da Vila Alpina, na zona leste, o corpo do líder metalúrgico Waldemar Rossi. Opositor do regime militar e amigo do cardeal e arcebispo emérito de São Paulo d. Paulo Evaristo Arns, Rossi atuou entre os trabalhadores da indústria paulista a partir dos anos 1960.

Ele morreu na quarta, aos 82 anos, em decorrência de problemas cardíacos. Nascido em Sertãozinho, no interior de São Paulo, aos dez anos Rossi trabalhou como boia-fria nas lavouras do interior paulista.

Dos 13 aos 27 anos foi empregado da construção civil, como pedreiro, até migrar para São Paulo e optar por trabalhar na indústria metalúrgica. Com formação católica e ligado aos movimentos sociais, Rossi ajudou a organizar trabalhadores e participou de greves por melhores condições nas fábricas, o que o levou a ser preso e torturado durante a ditadura.

Sua militância na Pastoral Operária (PO), braço da Igreja Católica que seguia a Teologia da Libertação, o levou a ser escolhido, pelo então arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, para saudar, em nome dos trabalhadores brasileiros, o papa João Paulo II em sua primeira visita ao Brasil, em 1980.

No estádio do Morumbi tomado por quase 200 mil pessoas, leu uma breve mensagem e entregou ao papa uma carta com denúncias sobre as torturas e os assassinatos praticados pelo regime militar e sobre as más condições de trabalhadores no campo e nas cidades. Foi abraçado calorosamente pelo pontífice.

Mesmo afastado das fábricas, Rossi seguiu no movimento sindical, participando da PO e do movimento de oposição à então diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, acusada de ter ligações com o regime militar.

Disputa

Em 1981, foi candidato da chapa 2 à presidência do sindicato. Disputou a eleição com o então presidente Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão, e com o deputado federal Aurélio Peres (PMDB), ligado ao PCdoB, partido que então era clandestino – Rossi e Peres eram candidatos da oposição. Rossi ficou em segundo lugar na primeira votação e acabou derrotado no segundo turno por Joaquinzão.

Ajudou a fundar a Central Única dos Trabalhadores (CUT) em 1983, em São Bernardo do Campo. Depois filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT). Em 1986, concorreu ao cargo de deputado federal constituinte, mas não foi eleito.

Na administração da prefeita Luiza Erundina foi administrador regional nos quatro anos de mandato da então petista. Rossi desfiliou-se do PT em 2004, por não concordar com a linha de atuação do partido.

Segundo sua mulher, Célia, sua maior preocupação nos últimos dias era com o rumo que o País deve tomar daqui para frente, diante do conturbado cenário político. Além da mulher, ele deixa cinco filhos, genro, noras e netos.