O lendário trompetista e cantor Hugh Masekela, personalidade do jazz e da luta contra o apartheid, morreu nesta terça-feira aos 78 anos, desencadeando uma série de homenagens a sua música “atemporal” e seu compromisso político.

“Depois de uma longa e corajosa batalha contra o câncer de próstata, ele morreu pacificamente em Joanesburgo, cercado por seus entes queridos”, anunciou a família.

O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, elogiou “um artista de jazz, um trompetista lendário, um defensor da cultura e um veterano da luta de libertação” contra o apartheid.

“Manteve viva a chama da liberdade lutando, através da música, contra o apartheid”, estimou Zuma. “É uma perda incalculável para o mundo da música e para todo o país”.

Hugh Masekela fugiu do regime do apartheid na década de 1960 e não retornou ao país até a libertação, em 1990, de Nelson Mandela, ícone da luta contra o racismo.

Entre suas principais composições, destacam-se “Bring Him Back Home”, em que pede a libertação de Mandela, futuro Nobel da Paz, e “Grazing in the Grass”, um tema instrumental.

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Quando adolescente, um padre envolvido na luta contra o apartheid, Trevor Huddlestone, o presenteou com seu primeiro trompete.

Foi criado por sua avó na pequena cidade de Witbank (norte).

– Uma vida de excessos –

Cresceu nas horas mais sombrias do regime com um sonho: o exílio.

“Quando o avião decolou, era como se eu tivesse sido libertado de um enorme peso, como se estivesse constipado por 21 anos”, lembra em sua autobiografia “Still Grazing”.

Depois de um período em Londres, estudou em Nova York, na Manhattan School of Music.

Nos Estados Unidos, frequentou figuras como Jimmy Hendrix, David Crosby, Marvin Gaye, Dizzy Gillepsie ou “Mama Africa”, a cantora sul-africana Miriam Makeba, por quem se apaixonou. O casamento durou dois anos.

Cantou a opressão e o combate. Em “Stimela”, homenageia os trabalhadores negros nas minas. E em “Thanayi” lembra a luta de uma mulher para encontrar comida.

A vida de Hugh Masekela foi marcada por excessos. “Estava sempre bêbado de dinheiro, de drogas, que nunca eram difíceis de encontrar, de amor, de luxúria e de música, e não tinha pressa em recuperar a sobriedade (…) Na verdade levei décadas para acordar”, escreveu ele.

De volta ao continente africano, tocou com o rei do afrobeat, o nigeriano Fela Kuti, e em 1974 participou da organização do festival por ocasião da luta de boxe entre Mohamed Ali e George Foreman em Kinshasa.

Na década de 1980, criou um estúdio de gravação móvel em Botswana e fez uma turnê com Paul Simon para o famoso álbum “Graceland”.


O trompetista, casado quatro vezes, ganhou o prêmio “Lenda do ano” de 2016 no MTV Africa Music Awards e no mesmo ano tocou para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.


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