A voz do grunge, uma das melhores surgidas durante a virada das décadas de 1980 e 1990, se silenciou. Morreu Chris Cornell, vocalista do Soundgarden e do Audioslave, na noite desta quarta-feira, 17, em Detroit, horas depois de se apresentar na cidade com o Soundgarden, em uma turnê da banda pelos Estados Unidos.

Brian Bumbery, agente de Cornell, confirmou a morte à agencia de notícias Associated Press. “Repentina e inesperada”, disse.

Em um comunicado, a família pediu privacidade e afirmou que colaborará com os legistas para determinar a causa da morte, ainda indefinida. A polícia suspeita de suicídio.

Chris Cornell, nascido em Seattle, em 1964, tinha 52 anos. Era casado com Vicky Karayiannis, com quem teve dois filhos, Toni, nascida em 2004, e Christopher Nicolas, em 2005. Há alguns anos, Cornell havia se convertido à religião católica ortodoxa grega.

Foi à frente do Soundgarden que Cornell fez história. Viveu, naqueles anos em Seattle, no epicentro do grunge, com o melhor e pior que o rock poderia trazer. Dividia um apartamento com Andrew Wood, vocalista da banda Mother Love Bone, morto ainda antes de lançar o primeiro disco do grupo, após uma overdose de heroína, em 1990.

Quando criou o Soundgarden, Cornell dividia as responsabilidades de baterista e vocalista. Para a sorte do mundo, ele deixou as baquetas de lado para se tornar um dos maiores cantores de rock que já se teve notícia.

Na explosão do grunge, o que era considerado música alternativa rompia sua bolha e chegava ao mainstream, nas rádios e TVs. Uma voz como a de Cornell, rouca e de alcance invejável nas áreas mais altas e notas mais agudas, era mais palatável do que outros vocalistas notáveis do movimento que ebulia em Seattle, como Eddie Vedder, do Pearl Jam, e, depois, Kurt Cobain, com seu arrebatador Nirvana.

Por isso, diante do potencial da voz de Cornell, o Soundgarden se tornou a primeira banda do grunge a assinar contrato com uma grande gravadora, depois de ter lançado o disco de estreia, Ultramega OK, de 1988, pelo selo indie SST Records.

Ao ingressarem no casting da A&M Records, a mesma do Guns N’ Roses, os integrantes foram rejeitados por parte dos fãs. Foram considerados vendidos para o sistema e para a indústria fonográfica. O segundo disco, Louder Than Love, de 1989, contudo, foi determinante para a caminhada de sucesso do grupo na rádios e na MTV.

Foi com Superunknown, álbum de 1994, que o Soundgarden atingiu seu ápice. O disco tinha singles como Spoonman, The Day I Tried to Live, Fell on Black Days e Black Hole Sun. Com ele, Chris Cornell e sua trupe chegaram ao topo da parada norte-americana.

Cornell culpou a indústria fonográfica como responsável pela tensão entre os integrantes do Soundgarden em meados da década de 1990. Em 1997, a banda anunciou que entraria em recesso por tempo indeterminado.

Uma voz como a de Cornell não ficaria calada por muito tempo. Logo, em 1999, ele lançou seu primeiro disco solo, Euphoria Morning, um trabalho com menos pancadas guitarreiras. Era o gogó aveludado de Cornell que ditaria as regras da sua carreira dali para frente.

Até mesmo ao se juntar com os integrantes do Rage Against the Machine, Tom Morello (guitarra), Tim Commerford (baixo) e Brad Wilk (bateria), para formar o Audioslave, Cornell não caiu no erro de esconder o potencial vocal que tinha. Pelo contrário, os anos que vieram, mesmo diante do abuso das cordas vocais ao longo das apresentações em público constante, mostraram um cantor cada vez mais capaz.

A carreira solo dele, seguida com discos Carry On (2007), Scream (2009), Songbook (2011) e Higher Truth (2015), se construiu em torno do que Cornell poderia fazer diante do microfone. Era avassalador.

Na última passagem pelo Brasil, ele seguiu por Rio de Janeiro, Curitiba e São Paulo. Veio acompanhado apenas por Bryan Gibson, que se revezava entre guitarra, piano e outros acompanhamentos sutis.

Mesmo que Cornell e o Soundgarden tenham feito as pazes, lançado um novo disco, chamado King Animal, em 2012, e até tocado no País no Lollapalooza, ele não tinha mais interesse naquela pancada sonora.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em novembro do ano passado, Cornell dizia se divertir com a experiência de performances mais intimistas. “Talvez o Chris Cornell de 25 anos atrás não tivesse a mesma tranquilidade para fazer uma apresentação dessas como hoje”, admitiu o músico.

Com o Soundgarden, dizia ele, era necessário “seguir certos padrões de comportamento”. “Meu eu anterior possivelmente estaria preocupado demais em como estaria me apresentando, pensando em coisas que não deveria fazer. Minha posição como vocalista de uma banda como o Soundgarden não funciona como artista solo. Devo respeitar que se tratam de dois animais diferentes.”