O cartunista e ilustrador francês Tomi Ungerer faleceu na madrugada deste sábado (9), aos 87 anos, na Irlanda, onde mora sua filha – informou seu ex-assessor Robert Walter.

“Ele faleceu à noite. Foi sua mulher que me ligou nesta manhã (de sábado)”, disse Walter à AFP, amigo “há 35 anos” e seu antigo consultor.

“Era um gênio universal, um homem que tinha talento para tudo, amava a literatura. Dizia ‘escrevo o que desenho e desenho o que escrevo'”, lembrou.

Nascido na cidade francesa de Estrasburgo, o artista viveu nos Estados Unidos e no Canadá antes de se instalar na Irlanda nos anos 1970. Ficou famoso em todo mundo com obras infantis, desenhos de temas eróticos, ou satíricos, e cartazes políticos.

Engajado politicamente – contra a segregação racial, a Guerra do Vietnã, a corrida nuclear, a eleição de Donald Trump, entre outros -, trabalhou alternadamente em francês, inglês e alemão.

Seu universo infantil, com personagens como “Os três bandidos”, ou “Juan de la luna”, tornou-o famoso. Mas ele também desenhou mulheres vestidas de couro, ou sapos, praticando posições de kamasutra, uma faceta menos conhecida de seu trabalho.

Sua obra consiste em entre 30.000 e 40.000 desenhos.

Nascido em 1931, em Estrasburgo, em uma família de relojoeiros, “Tomi” Ungerer, que na realidade se chamava Jean-Thomas, ficou órfão aos três anos de idade.

Em sua infância, também sofreu com a anexação da Alsácia pela Alemanha, com a doutrinação nazista quando foi para a escola, e com os duros combates para expulsar os alemães de Colmar, episódios que ele conta em seus livros autobiográficos.

Convencido de que a criatividade nasce dos traumas, ele nunca teve medo de assustar as crianças com seus desenhos e textos.

Inimigo das fronteiras, o cartunista dizia falar “francês com sotaque alemão e alemão com sotaque francês”. Ele também trabalhou pela reconciliação dos dois países após a guerra, favorecendo o intercâmbio cultural entre a França e a Alemanha.

Seu reconhecimento como artista levou Ungerer a ser um dos poucos artistas franceses a ter um museu ainda vivo, instalado em sua cidade natal de Estrasburgo e para o qual ele doou 11.000 desenhos originais, bem como esculturas, brinquedos e livros.

“Ele teve uma juventude incrível, frescor de espírito, às vezes raiva”, disse sua amiga Thérèse Willer, curadora do museu, em referência à sua raiva pela eleição de Trump, a quem ele descreveu como “primeiro cavaleiro do Apocalipse”.

Em 2018, recebeu a insígnia de Comandante da Legião de Honra por sua contribuição para “a projeção da França por meio da cultura”.

Anos antes, o artista – que se definia como um “pessimista feliz” – disse à AFP que, para ele, “se tivesse que haver um paraíso, seria uma biblioteca”.