O uruguaio Álvaro Mangino, um dos sobreviventes do acidente aéreo de 1972 nos Andes, retratado no filme “A Sociedade da Neve”, morreu neste sábado (29) em Montevidéu, aos 71 anos, informou a imprensa local.
Mangino sofria com problemas de saúde depois que de uma pneumonia da qual custou a se recuperar, segundo ele mesmo contou em fevereiro do ano passado, em plena promoção do filme indicado ao Oscar.
Amigo dos integrantes da equipe amadora de rúgbi uruguaia Old Christians Club, voava com eles para uma partida no Chile quando o avião fretado para os transportar caiu nos Andes argentinos em 13 de outubro de 1972.
“A comunidade do Colégio Stella Maris e o Old Christians Club lamentam com profundo pesar a partida de Álvaro Mangino Schmid”, escreveu o clube na rede social X.
Mangino, que também não era aluno do colégio Stella Maris, quase não conseguiu embarcar no fatídico voo 571.
Das 45 pessoas a bordo, 33 sobreviveram ao impacto inicial, mas apenas 16 viveram para contar a dura experiência de passar dez semanas a menos de 30 graus Celsius e a quase 4 mil metros sobre o nível do mar, sem abrigo, roupas adequadas e comida.
O resgate só foi possível depois que dois dos jovens conseguiram auxílio após uma caminhada de dez dias nas montanhas em condições hostis. A história, conhecida como o “Milagre dos Andes”, inspirou vários livros e filmes.
Como o restante do grupo, Mangino teve que recorrer ao canibalismo e se alimentar da carne de seus companheiros mortos. “A decisão mais difícil que tomei em minha vida”, conforme ele lembrou no livro “A Sociedade da Neve”, do uruguaio Pablo Vierci, que baseia o filme.
J.A. Bayona, diretor do longa, destacou neste sábado a generosidade de Mangino e sua ajuda para o filme.
“No impacto, ele fraturou a perna e passou os 72 dias se arrastando pela neve. Contudo, apesar de sua incapacidade, será lembrado por não ter parado nunca de trabalhar na montanha, derretendo neve constantemente para poder abastecer de água os seus companheiros”, escreveu Bayona no Instagram.
Acrescentou uma foto de Mangino sentado ao lado de Juan Caruso, o ator argentino que o interpretou no filme.
“Foi sempre muito discreto, mas tem uma história tão linda, tão rica, tão poderosa”, disse Caruso no ano passado sobre Mangino, e lembrou que foi o seu amor por sua namorada Margarita, com quem se casou e teve quatro filhos, que o manteve vivo.
Mangino, que viveu por muitos anos no Brasil e trabalhou depois no Uruguai em uma empresa de calefação e ar-condicionado, é o terceiro dos sobreviventes do “Milagre dos Andes” a falecer, depois de Javier Methol, em 4 de junho de 2015, e José Luis Inciarte, em 27 de julho de 2023.