24/04/2020 - 13:20
A saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça não surpreende os que conhecem o desapego do ex-juiz da Lava Jato com o poder e de sua intransigência contra os malfeitos. Ao demitir o diretor-geral, Maurício Valeixo, de forma sorrateira, Bolsonaro queria deixar a PF de joelhos às suas inescrupulosas intenções de dominar a instituição, obrigando-a a tapar os olhos para as falcatruas cometidas por seus filhos milicianos e por seu manifestado desejo de manipular a PF para atingir seus obscuros objetivos de poder.
Moro revelou, em seu pedido de demissão, que Bolsonaro quer transformar a PF numa central de arapongagem, um núcleo de espionagem para perseguir inimigos e proteger a si e a seus nefastos filhos. Os brasileiros do bem, como Moro, não podem compactuar com tamanha ousadia, sobretudo a partir da manifesta intenção do presidente de incitar seus malignos seguidores a atos antidemocráticos e ilegais, como os protagonizados na semana passada, em que pediram a intervenção militar, a volta do AI-5 e o fechamento do Congresso e do STF.
A sociedade, os partidos políticos, a direção da Câmara, em especial, e o Poder Judiciário não podem permitir tamanho retrocesso, que agora, com a saída de Moro, torna-se uma ameaça real. O Estado de Direito corre perigo e a democracia brasileira nunca esteve tão ameaçada como agora. Talvez seja a maior ameaça desde de 1964. Ou as instituições que desejam preservar a democracia se organizam para retirar Bolsonaro do poder já ou ele continuará insistindo na sua tese ditatorial de golpear o Estado de Direito e as instituições, conforme Moro acaba de revelar.
Ficou clara na fala de Moro nesta sexta-feira que Bolsonaro comete mais um crime de responsabilidade ao explicitar que deseja de fato instrumentalizar a PF e o governo para defender bandidos e os seus próprios interesses escusos. Moro, portanto, fez a coisa certa, ao expor mais essa insanidade do presidente.
O Brasil fica ainda mais credor do ex-juiz. Primeiro por moralizar a política, colocando na cadeia os marginais que atacaram os cofres públicos e agora tirando a máscara de Bolsonaro. O pior é, a partir da saída de Moro, Bolsonaro vai se encorajar a demitir todos os ministros competentes, como já havia acontecido com Mandetta.
O próximo deve ser Paulo Guedes. Bolsonaro cerca-se cada vez mais dos militares, passando a mensagem de que pode dar um autogolpe, sustentado pela caserna. Portanto, se a sociedade não conseguir se mobilizar neste momento para afastar Bolsonaro do poder já, fatalmente corremos o risco de mergulhar em mais um período de trevas.
É fato que mais um impeachment neste momento de pandemia seria doloroso para o País, mas a democracia precisa estar acima de tudo. Só quem viveu a ditadura dos militares sabe avaliar o que o povo sofre com a perda de direitos democráticos. Ou então teremos que aguentar mais três anos até as próximas eleições, quando certamente o nome de Sergio Moro estará na cédula eleitoral.