Sergio Moro tem certa simpatia eleitoral do brasileiro, as pesquisas mostram, mas como político estreou com um deslize que pode lhe custar uma mordida na língua. No discurso desta quarta (10), na filiação ao Podemos, ele revelou que pediram para ele não tocar no assunto corrupção, ou combate à corrupção. Mas não revelou quem.

O tema é caro ao pré-candidato. É o combate à corrupção que o alçou à fama nacional, como juiz federal comandante do processo da Operação Lava Jato. Foi o tema anticorrupção que o levou ao Ministério da Justiça do Governo de Jair Bolsonaro – de onde saiu constrangido numa situação melancólica.

Ter, dentro do Podemos, ou como aliados, gente que lhe pede para não tocar no assunto corrupção é , no mínimo, um indicativo de alerta de perigo. À sua própria biografia até aqui.

Para lembrar apenas uma situação: Moro ficou sozinho dentro do Governo e isolado no Congresso Nacional como ministro da Justiça ao focar o combate à corrupção. Foi rifado até pela base do Governo, com aval de Bolsonaro.

Moro acordou tarde para descobrir que boa parte do parlamento é um antro de enrolados com a Justiça. E esse isolamento lhe custou o cargo.

Como a Coluna publicou ontem, Sergio Moro é um ensaio, a qualquer cargo. Só as pesquisas mostrarão que caminho eleitoral vai tomar em abril de 2022. Por ora, e já publicamos isso, Moro é candidato a uma vaga futura no STF. Seu sonho ainda adormecido. Ele vai apoiar o candidato viável que lhe garantir um lugar sob o sol do Judiciário. Mesmo que isso lhe custe uma candidatura ao Senado, ou a vice na chapa de outro nome mais viável.

Mas que não se enganem os mais céticos. O Brasil é dado a ondas eleitorais. A terceira via vem batendo à porta do Palácio do Planalto há anos, mesmo que tímida. Mas vem crescendo. Vide a ascensão meteórica, às vésperas de passados pleitos, dos então candidatos Enéas Carneiro, Anthony Garotinho, Heloísa Helena, e o que poderia ser Eduardo Campos.

Moro pode ser essa nova onda para tirar o país da polaridade tradicional.