Justiça seja feita. Quando Lula foi preso no dia 7 de abril de 2018, o então juiz Sergio Moro, encarregado da ordem de prisão, determinou que a Polícia Federal não algemasse Lula e que conduzisse o ex-presidente de forma respeitosa até Curitiba. Tanto que ele foi de São Paulo a Curitiba num jatinho da PF e todos puderam vê-lo pela televisão desembarcando na viatura da PF e embarcando tranquilamente no jatinho e até cumprimentando o piloto. O que isso tem a ver com o atual momento? Tudo. É que diante da Lei de Abuso de Autoridade que foi aprovada esta semana pela Câmara, como represália dos deputados aos juízes e procuradores, um policial federal que algemar um preso indevidamente poderá ser preso. O problema é que essa decisão cabe ao policial ali na hora da prisão. Quem ele pode algemar e quem ele não pode algemar? Se for um preso preto e pobre pode algemar, expô-lo diante das câmeras de televisão, conduzi-lo como gado até a cela? Aí pode. Mas é quando o preso é um deputado ou um ex-deputado, de colarinho branco, que roubou milhões dos cofres públicos, deixou crianças sem remédios nos postos de saúde, sem creches ou refeição na escola porque o dinheiro foi desviado para suas milionárias contas no exterior? Nesse caso não pode algemar, certo? Mas porque pode se algemar um preso pobre, mas um deputado bandido não pode? Ora, porque o Brasil é desigual e nem todos são iguais perante a lei. Há brasileiros de segunda classe e há brasileiros de primeira classe. Esses nobres cidadãos podem tudo. Podem roubar, podem ter foro privilegiado, podem ficar impunes e, quando são flagrados roubando, não podem ir para a cadeia algemados. E se forem algemados, quem vai preso é o policial e não o bandido de colarinho branco. É por essa e por outras que essa Lei do Abuso de Autoridade tem que ser revogada pelo presidente. A não ser que ele esteja olhando lá pra frente, quando algum dos seus correr o risco de sofrer tamanho abuso.