Um paladino que quer resgatar o Brasil da corrupção endêmica ou um puritano que criminalizou a política: o juiz Sérgio Moro condenou nesta quarta-feira a 9 anos e 6 meses de prisão o ex-presidente Lula da Silva, em uma cruzada que já colocou atrás das grades políticos e empresários.

A sentença por corrupção e lavagem de dinheiro contra o ícone da esquerda latino-americana é o episódio mais transcendente de um incrível processo iniciado há mais de três anos com a abertura da Operação ‘Lava Jato’, a maior investigação sobre corrupção na história.

Desde então, a fama de Moro cresceu ao ritmo das revelações das escandalosas práticas de corrupção conhecidas como Petrolão.

Em suas redes caíram de ex-diretores da Petrobras até os poderoso donos das principais construtoras do país, passando por políticos de grande e pequeno calibre, em movimentos que pouco a pouco estreitaram o cerco contra uma das figuras até então intocáveis da política latino-americano.

Moro foi apertando, pouco a pouco, o cerco sobre Lula, até então uma das figuras intocáveis da política brasileira.

“Senhor Presidente, quero deixar claro que apesar de algumas versões, não existe de minha parte qualquer desavença pessoal com o senhor. O resultado deste julgamento virá das provas e da aplicação da lei”, disse o juiz em maio, após iniciar o interrogatório do fundador do Partido dos Trabalhadores (PT).

– Moro vs. Lula –

Foi Moro que, em 4 de março de 2016, ordenou a condução coercitiva de Lula para um interrogatório e no mesmo mês divulgou a gravação de uma conversa entre ele e sua sucessora, Dilma Rousseff (2011-2016), que sugeria que ela tentava torná-lo ministro para que o fórum privilegiado o protegesse da justiça comum.

Lula prestou juramento em seu novo cargo, mas nunca conseguiu assumi-lo, impedido pelo STF. A legalidade do vazamento do áudio foi duramente questionada.

“Eu, sinceramente, estou assustado com a República de Curitiba”, afirmou o ex-presidente na gravação divulgada com autorização do próprio magistrado.

Ironicamente, essa frase transformou Curitiba, onde juiz e réu estarão frente a frente, em sinônimo de justiça para quem apoia a causa e antagoniza Lula.

– ‘Mãos Limpas’ –

Moro nasceu há 44 anos na cidade paranaense de Maringá, e ali se formou em Direito, tornando-se juiz em 1996. Doutor e professor universitário, completou sua formação na respeitada Universidade de Harvard.

É admirado por muitos de seus pares, que o definem como um juiz preparado, rápido e decidido.

Seus detratores, em compensação, o consideram abusivo no uso das prisões preventivas e suficientemente politizado para pretender anular Lula como candidato presidencial para 2018, disputa que lidera com folga segundo as pesquisas.

“Moro instituiu a prisão preventiva como regra, quando, em qualquer país civilizado, é a exceção”, criticou o advogado Antônio Carlos de Almeida, defensor de vários envolvidos no Petrolão.

Em maio passado, a Operação Lava Jato havia sofrido um de seus maiores reveses com a libertação de dirigentes condenados por Moro, como o ex-chefe da Casa Civil de Lula, José Dirceu, por parte do STF.

Mas o magistrado estudioso da histórica Operação “Mani Pulite” (“Mãos Limpas”), que desarticulou a complexa rede de corrupção que dominava a Itália nos anos 1990 e na qual se inspirou, optou por não comentar essas decisões e se limitou a pedir que quem apoia a Operação Lava Jato se abstivesse de viajar a Curitiba para não alimentar a intenção de Lula e seus partidários de “transformar um ato normal do processo penal (…) em um evento político-partidário”.