21/06/2023 - 13:40
O senador Sergio Moro (União-PR), ex-juiz federal da Operação Lava Jato, fez um cerco verbal ao advogado Cristiano Zanin, na sabatina desta quarta-feira no Senado. Entre as perguntas, Moro jogou uma pimenta no prato morno que se tornou a sessão: perguntou qual a sua opinião, como candidato a uma vaga ao Supremo Tribunal Federal, sobre o uso de provas obtidas de forma ilícita em processos judiciais.
Moro, evidentemente, falou do seu caso sem esticar a língua. E todos perceberam. Como notório, ele e o procurador Deltan Dallagnol caíram em desgraça depois da revelação de trocas de mensagens em aplicativos de conversa por celular, com sigilos violados por hackers (hoje presos). As provas obtidas, mesmo ilicitamente, ganharam os autos da Lava Jato no Supremo e levaram à anulação da sentença de Moro contra Lula da Silva, abrindo caminho para o petista se candidatar e vencer a eleição de 2022.
Zanin, ciente da armadilha, saiu pela tangente – mas ao ficar “em cima do muro” deixou a interpretação jurídica em aberto para que o senador possa, futuramente, fazer um novo cerco ao potencial ministro da Corte:
“Temos uma visão na doutrina que, de um lado, há juristas que entendem que a ilícita só pode ser usada por meio de defesa, exclusivamente; e há outra corrente que entende que, se a prova ilícita por este caráter pode ser usada também para punição do agente. Reconheço que prevalece a primeira corrente, mas existem as duas”, resumiu o advogado.
Poucos no plenário perceberam. Moro sorriu discreto com uma ponta dos lábios.