31/05/2018 - 18:00
Os jogadores da Seleção Brasileira há muito se comportam como celebridades. E em boa parte das vezes ganham mais que estrelas de cinema e artistas pop. Às vésperas da Copa do Mundo, os convocados elevam seu status ao de figuras de estado. Tanto que os 20 atletas que embarcaram no domingo 27 para a Rússia, com escala para treinos e amistosos no Reino Unido e Áustria, voaram em um Airbus A340-300 VIP que custa mais de US$ 250 milhões. É quase injusta a comparação com o DC-7 da Panair que trouxe o time de Pelé e Garrincha da Copa da Suécia, em 1958 – à época a aeronave valia 0,5% (US$ 1,3 milhão) do atual modelo fretado pela CBF. Enquanto os primeiros campeões fizeram escalas em Londres, Lisboa, Dakar e Recife antes de chegar ao Rio, Neymar e companhia voam direto e com mordomias usualmente restritas a bilionários de países asiáticos e do Oriente Médio. Além das confortáveis poltronas para cada atleta, a cabine tem amplos sofás revestidos com couro de fazer inveja a bolsas Louis Vuitton.
Na semana em que voos em todo o Brasil foram cancelados por falta de combustível, os tanques capazes de armazenar 147 mil litros de querosene do A340 foram abastecidos pelo oleoduto que liga a refinaria de Duque de Caxias ao Galeão. Antes do abastecimento, o avião da empresa de fretamento maltesa AirX Charter havia sido preparado para abrigar com mimos e conforto até 100 privilegiados. A versão de linha aérea comporta cerca de 280 passageiros. Na configuração VIP, todas as poltronas são de primeira classe. Com quatro grandes turbinas, o avião de origem francesa concorre com o Air Force One, fabricado pela americana Boeing para transportar o presidente dos Estados Unidos. Tanto que um modelo similar ao alugado pela CBF é usado pela chanceler alemã Angela Merkel. O ditador líbio assassinado Muamar Kadafi chegou a ter um, comprado de um príncipe saudita.
Por mais que Neymar seja dono de um jato Citation Sovereign avaliado em quase US$ 18 milhões, até a semana passada ele não tinha experimentado voar em algo tão grandioso quanto a aeronave de matrícula 9H-BIG que o levou a Londres para a fase de aquecimento para a Copa. Esse privilégio havia sido do zagueiro Miranda. Em meados do ano passado, seu time, a Internazional e de Milão, excursionou à China a bordo desse jato.
Prêmios de US$ 1 milhão
A globalização dos esportes, os grandes contratos de patrocínio e os direitos de imagem permitem essas regalias impensáveis no passado. Os brasileiros tricampeões da Copa de 70, no México, ganharam fusquinhas verde-musgo pagos com dinheiro público por Paulo Maluf, então prefeito de São Paulo. O caso virou escândalo e se arrastou na Justiça. Em 1994, os jogadores trouxeram tantas compras dos Estados Unidos que o caso ficou conhecido como o “Voo da Muamba”. Foram 11 toneladas a mais de carga na volta dos jogadores que conquistaram o tetra. A CBF só pagou essa conta à Receita Federal após uma CPI. Se o Brasil vencer a Copa de 2018, é provável que isso não ocorra, já que só três dos convocados atuam por aqui. A taça dará aos atletas premiações individuais de US$ 1 milhão – o suficiente para comprar um apartamento de luxo em qualquer capital do Brasil.
Essa foi a primeira vez que a Seleção viajou para um mundial por uma companhia estrangeira. Entre as copas de 1954 e 1962 foram usados aviões da Panair. De 1966 a 2006, a canarinho voou de Varig. Em 2010, foi de TAM, ficando a competição de 2014 a cargo da Gol, uma das atuais patrocinadoras. Como a companhia não voa na Europa, foi preciso contratar outra empresa. Na Rússia, o time terá que fazer os deslocamentos internos mais longos de sua história. Serão 7,3 mil quilômetros na primeira fase, com jogos em Samara, Kaliningrado e Moscou. Para tanto, devem voar em 737 ou A320, menores, mas não muito menos luxuosos. Algo corriqueiro no abastado futebol global.
O avião de origem francesa concorre com o Air Force One, que transporta o presidente dos Estados Unidos. Um modelo similar é usado pela chanceler alemã Angela Merkel