Morar perto de áreas verdes antes e durante a gestação, bem como na primeira infância da criança, pode beneficiar o desenvolvimento cognitivo e ter um efeito protetor contra atrasos de desenvolvimento infantil, mostra um estudo recém-publicado no periódico Environmental International.
Segundo a pesquisa, o contato com a natureza está associado à saúde física e mental, mas pouco se investiga sobre o impacto no desenvolvimento cognitivo, principalmente, em populações mais carentes.
Por isso, cientistas da Universidade Harvard e outras instituições dos Estados Unidos avaliaram dados de mais de 1,8 milhão de duplas de mães e filhos, entre os anos de 2001 e 2014, a partir de registros do Medicaid, sistema de saúde estadunidense. As grávidas que fazem parte do programa geralmente são jovens, apresentam grande diversidade étnica e racial, além de baixo nível socioeconômico.
As informações sobre o desenvolvimento das crianças — incluindo transtornos do espectro autista, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), problemas de aprendizagem e de coordenação motora, atrasos no desenvolvimento e problemas comportamentais — foram cruzadas com dados sobre o local em que a mãe morava antes, durante e após a gestação, a partir de imagens de satélite.
A análise revela que, quanto maior a exposição a áreas verdes, menor é o risco de transtornos do desenvolvimento. As maiores associações foram encontradas em relação a comprometimento intelectual e dificuldades de aprendizagem, principalmente para crianças negras e hispânicas morando em áreas urbanas.
“O estudo reforça o que temos observado em diversos outros trabalhos demonstrando que viver perto de áreas verdes tem impacto positivo não só desenvolvimento infantil, mas em todas as faixas etárias”, observa Lis Leão, pesquisadora sênior do Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, do Einstein Hospital Israelita.
Infância e natureza
A infância é um período de alta plasticidade cerebral, e o contato ambiental tem grande importância nessa fase. “É na infância que se cria maior conexão com a natureza, e esse tem sido um fator protetor também de saúde mental na vida adulta”, explica Leão, que é cofundadora da Rede Saúde e Natureza Brasil e líder do grupo de pesquisa e-Natureza, do Einstein, que atua na geração de conhecimento sobre a relação entre saúde humana e meio ambiente, além da produção de materiais educativos e cursos gratuitos nessa área.
Ao explorar ambientes naturais, as crianças estão expostas a diversos estímulos. “Elas estão sujeitas a terrenos irregulares e então desenvolvem melhor equilíbrio, ganham em amplitude de movimentos, além do aprendizado que a natureza oferece e das oportunidades de interação social”, acrescenta Lis Leão.
Segundo a especialista, viver perto do verde também significa estar em um ambiente que reúne características consideradas mais saudáveis, como temperaturas mais amenas, fator importante nas crescentes ondas de calor. Além disso, a criança tem contato com maior biodiversidade e ar menos poluído, entre outras vantagens.
Para os autores da pesquisa, vários mecanismos explicam esses benefícios, incluindo impactos positivos sobre células reprodutivas, efeitos no desenvolvimento do cérebro ainda no útero, além de menos estresse e depressão. “Isso reforça que o desenho das cidades, a distribuição de áreas verdes e a garantia de acesso equitativo não são apenas questões urbanísticas, e sim determinantes sociais e ecológicos de saúde e desenvolvimento”, afirma a pesquisadora.
Fonte: Agência Einstein
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