Morando nos EUA, Marco Pigossi e marido lamentam política migratória de Donald Trump

À IstoÉ Gente, ator e diretor do filme "Maré Alta" não sabem como ficarão no país caso o presidente tome novas medidas contra imigrantes

LD Entertainment
Marco Pigossi em cena emocionante do filme "Maré Alta" Foto: LD Entertainment

“Maré Alta”, filme internacional dirigido e roteirizado por Marco Calvani, e protagonizado por Marco Pigossi, chegou aos cinemas do Brasil na última quinta-feira, 20, com a proposta de abordar as dificuldades e desafios que um imigrante pode enfrentar quando decide ir embora de seu país.

O ator, que é brasileiro, e o diretor, italiano, são casados desde 2023 e moram em Los Angeles, nos Estados Unidos. Os dois conversaram com a IstoÉ Gente a respeito da composição do longa-metragem sob os olhares de duas pessoas que, assim como o personagem principal, são imigrantes.

“A inspiração para o filme veio no começo da pandemia, em 2020, eu estava morando em Nova York, muito isolado, mas com muito tempo para escrever e refletir sobre as coisas de uma forma diferente. E o mundo ao meu redor estava mudando rapidamente, era o primeiro governo de [Donald] Trump. Depois teve o George Floyd assassinado, o [movimento] Black Lives Matter. Todas essas coisas acabaram formando, de certa forma, o que veio a ser [o filme] ‘Maré Alta'”, iniciou Calvani.

“Eu era um imigrante, um homem gay, morando em um país em que não me reconhecia mais. E eu não sabia o que seria de mim, como homem, como artista”.

Ao ser questionado sobre lançar o filme na mesma época em que Donald Trump reassume a presidência do país onde ele vive, Marco Pigossi não escondeu temer as futuras decisões do republicano, que já decretou a expulsão de milhares de imigrantes do país.

“Ele é presidente novamente e vem agora com uma política muito agressiva e opressora. Eu falo que o ‘Maré Alta’ tem um grito de liberdade e de amor. Quando a gente fala de uma política que trabalha com opressão e com medo, a resposta ao medo é amor, a resposta à opressão é liberdade”, declarou.

“É tão bonito trazer esse filme nesse momento para a gente conseguir tocar as pessoas, criar um senso de empatia para conseguir sentir o que a pessoa está sentindo e se colocar no lugar dela. Só o cinema tem esse poder”, completou ele, dando o exemplo do sucesso de “Ainda Estou Aqui”, filme nacional vencedor do Oscar 2025.

“Quando a gente lê no jornal quantas milhares de pessoas desapareceram durante a ditadura, é claro que a gente fica chocado. Mas a gente não necessariamente sente o que aquela família sentiu. Vendo o ‘Ainda Estou Aqui’, a gente pela primeira vez sentiu aquele buraco, aquela falta”, argumentou.

Morando nos EUA, Marco Pigossi e marido lamentam política migratória de Donald Trump

Marco Pigossi em cena de “Maré Alta” -LD Entertainment

“A mesma coisa quando você lê quantos mil brasileiros foram deportados dos Estados Unidos. É chocante, é horrível, mas a gente não necessariamente sente o que eles estão sentindo. Quando a gente vê a história do Lourenço [personagem de ‘Maré Alta’], as lutas dele, as dores, a vivência, é ali que a gente entra no lugar dele e sente o que ele está sentindo e cria esse senso de empatia”, explicou.

Pigossi e Calvani ainda esclareceram as suas situações como imigrantes nos Estados Unidos.

“O filme também fala muito sobre isso, do sonho americano, o quanto ele não existe, o quanto ele está quebrado, o quanto ele é uma ideia colocada e vendida de uma maneira que a gente acredita, mas que, na verdade, não existe”, afirmou.

“No nosso caso, nunca foi pelo sonho americano. Eu estava vindo de um processo da Austrália, da Espanha, e um trabalho me chamou para lá [Los Angeles]. Ele [Calvani] trabalhava no teatro em Roma e foi chamado para trabalhar em Nova York. A gente se apaixonou, mas o lado profissional é o que nos mantêm lá”, contou.

“Agora, não sei o que vai ser. No momento, os dois são residentes legais nos Estados Unidos, mas não se sabe o que esse governo vai trazer de novidades nesse sentido”.

“Pode haver um momento em que precisaremos sair, e não estamos particularmente romantizados com os Estados Unidos, podemos sentir o chamado para ir para outro lugar e continuar a lutar em outro lugar. Nossas armas estão cheias de flores e empatia”, encerrou o diretor.

Morando nos EUA, Marco Pigossi e marido lamentam política migratória de Donald Trump

Marco Calvani, marido de Marco Pigossi e diretor de “Maré Alta” – LD Entertainment