Zanin suspende sessão e julgamento de Bolsonaro retorna nesta quarta-feira

Julgamento retorna às 9h desta quarta-feira com apresentação de defesa de Augusto Heleno; advogados de Bolsonaro apresentam em seguida

Julgamentos da Ação Penal 2668 - Núcleo 1 (Manhã). Foto: Gustavo Moreno/STF
Julgamentos da Ação Penal 2668 - Núcleo 1 (Manhã). Foto: Gustavo Moreno/STF

O presidente da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Cristiano Zanin, suspendeu o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais sete réus no inquérito que investiga a trama golpista. A audiência será retomada nesta quarta-feira, 3. Durante leitura da acusação, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que os atos praticados demonstra uma “cooperação entre os envolvidos, sob a coordenação e determinação do ex-presidente, evidencia a organização criminosa e suas implicações penais”. 

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A audiência começou às 9h15 desta terça-feira, 2, na Primeira Turma da Corte, foi interrompida por volta das 12h e retomada por volta das 14h15. No início da sessão da manhã, o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, disse que uma organização criminosa tentou “coagir” e “submeter o STF” ao governo de Donald Trump. O magistrado não citou a família Bolsonaro.

Moraes ainda destacou que as instituições mostraram força e resiliência e ponderou que, apesar de uma “lamentável manutenção de polarização política”, deve-se afastar “com todas as forças” a tentativa de quebra de institucionalidade.

“O papel do Supremo Tribunal Federal é julgar com imparcialidade e aplicar a justiça a cada um dos casos concretos, independentemente de ameaças ou coações, ignorando pressões internas ou externas”, continuou.

Em seguida, o Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, falou por cerca de uma hora e reafirmou que as provas são suficientes para a condenação de todos os réus.

“Quando o presidente da República e o ministro da Defesa se reúnem com comandantes militares, sob sua direção política e hierárquica, para consultá-los sobre a execução da fase final do golpe, o golpe, ele mesmo, já está em curso de realização”.

“Não há como negar fatos praticados publicamente, planos apreendidos, diálogos documentados e bens públicos deteriorados”, acrescentou Paulo Gonet. “O que está em julgamento são atos que hão de ser considerados graves enquanto quisermos manter a vivência de um Estado democrático de Direito”, concluiu

Na sequência, a defesa do tenente-coronel Mauro Cid reforçou a importância da delação premiada para o inquérito e pediu a manutenção dos benefícios. Os advogados Jair Alves e Cezar Bittencourt ainda negaram a participação de Cid no esquema golpista e disseram que o militar apenas tinha conhecimentos do plano arquitetado pela cúpula bolsonarista.

“Por que eu não acho que ele [Mauro Cid] tenha resistido? Ele falou tudo que sabia. Entre falar tudo que sabe e praticar tudo que viu tem uma diferença muito grande. Eu não posso imaginar que o Cid tenha tentado dar um golpe de estado quando ele já estava em março nomeado para assumir o batalhão de de Goiânia, com casa alugada, os filhos matriculados no colégio. A vida dele seguia fora da ajudança de ordem. E na verdade a ajudança de ordem só atrapalhou a vida do Cid, para ser bem sincero”, declarou Alves.

Em fevereiro, a PGR ofereceu denúncia contra, ao todo, 34 pessoas envolvidas na suposta trama golpista. Os denunciados foram divididos em cinco núcleos, conforme as diferentes funções que teriam na trama.

Bolsonaro é acusado de comandar as articulações para o plano golpista após a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022. Outros sete aliados também são réus no chamado “núcleo 1” do inquérito, desde ex-ministros a militares de alta patente. 

Para a Procuradoria-Geral da República (PGR), Bolsonaro foi o líder da organização criminosa e participou ativamente na elaboração da minuta do golpe para evitar a posse de Lula. O ex-presidente ainda é acusado de editar uma minuta golpista e pressionar chefes das Forças Armadas a aderirem ao plano. Ele recuou da ideia após a recusa dos então comandantes do Exército e da Aeronáutica.

Além de Bolsonaro, outros sete aliados são réus no processo relatado pelo ministro Alexandre de Moraes. São eles: 

  • Alexandre Ramagem, deputado federal (PL-SP)
  • Almir Garnier Santos, almirante e ex-comandante da Marinha
  • Anderson Torres, delegado do PF e ex-ministro da Justiça
  • Augusto Heleno, general e ex-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional)
  • Jair Bolsonaro, capitão e ex-presidente da República
  • Mauro Cid, tenente-coronel, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator
  • Paulo Sérgio Nogueira, general e ex-ministro da Defesa
  • Walter Braga Netto, general e ex-ministro da Casa Civil

O processo é analisado pela Primeira Turma da Corte, que conta com cinco ministros: Cristiano Zanin, Alexandre de Moraes, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Flávio Dino. O julgamento deve durar até dia 12 de setembro.

A expectativa é que o primeiro dia seja destinado para a leitura do relatório de Moraes e para os argumentos do procurador-geral da República, Paulo Gonet. Em seguida, as defesas terão 1h para apresentar seus argumentos. O advogado do ex-presidente, Celso Villardi, deve ser o sexto a falar. 

Os votos dos ministros devem ficar apenas para a segunda semana de julgamento. A expectativa nos bastidores do STF é pela condenação de Bolsonaro, a dúvida está no placar unânime ou se haverá voto contra de um dos ministros. A incógnita está no voto de Luiz Fux, que já deu indícios de que poderá divergir do voto do relator.

Jair Bolsonaro

Jair Bolsonaro é acusado de ser o líder da organização criminosa que planejou o golpe de Estado após a derrota nas eleições de 2022; ele nega os crimes

A denúncia contra Bolsonaro 

Bolsonaro se tornou réu em março deste ano após a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciar o ex-presidente por participação no plano golpista após a derrota para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022. As investigações da Polícia Federal começaram em agosto de 2023 e avançaram após a delação de Mauro Cid, tenente-coronel do Exército e ex-ajudante de ordens do Palácio do Planalto.

Para a PGR, Bolsonaro foi o líder da organização criminosa e participou ativamente na elaboração da minuta do golpe para evitar a posse de Lula. A denúncia, oferecida em fevereiro deste ano, narra a trajetória golpista desde o período pré-eleitoral, com a disseminação de notícias falsas, até os ataques de 8 de janeiro contra os Três Poderes. 

Uma das provas pontuadas pelo procurador-Geral da República, Paulo Gonet, é o compartilhamento de notícias falsas nas redes sociais e declarações do ex-presidente contra o sistema eleitoral brasileiro. Para ele, Bolsonaro tentou descredibilizar a confiabilidade das urnas eletrônicas e o processo eleitoral para legitimar uma ruptura golpista. 

A denúncia aponta a gravação de uma reunião ministerial, realizada no dia 5 de julho de 2022, em que Bolsonaro cobra de seus ministros a utilização da estrutura do Estado para reforçar a desconfiança sobre o processo eleitoral. A acusação reforça o uso da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que realizou blitzes no dia do segundo turno das eleições de 2022 em áreas em que Lula obteve maioria dos votos para impedir que os eleitores pudessem votar. 

Bolsonaro ainda é acusado de editar e aprovar uma minuta golpista, que previa a declaração de Estado de Defesa no país, a revogação das eleições de 2022, além da prisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF. O documento também previa a formação de uma comissão provisória liderada por militares para investigar as supostas fraudes eleitorais e convocar novas eleições. 

O ex-presidente, de acordo com a PGR, apresentou o documento para os comandantes das Forças Armadas e chegou a pressioná-los para aderir ao plano golpista. O então líder da Marinha, o almirante Almir Garnier, deu aval à ideia, mas os comandantes do Exército Marco Antônio Freire Gomes e da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, se negaram a aderir à proposta. A tese foi corroborada por Freire Gomes e Baptista Junior em depoimentos à Polícia Federal. 

Gonet ainda reforça que o ex-presidente da República tinha ciência e deu o aval para a execução do plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato de autoridades, como Moraes, Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin. O documento foi elaborado pelo general Mário Fernandes, ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, e impresso nas dependências do Palácio do Planalto. 

“O plano foi arquitetado e levado ao conhecimento do Presidente da República, que a ele anuiu, ao tempo em que era divulgado relatório em que o Ministério da Defesa se via na contingência de reconhecer a inexistência de detecção de fraude nas eleições”, afirmou a PGR na denúncia. 

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro nega todos os crimes atribuídos à ele.