População da capital do Irã foge após bombardeios israelenses a áreas residenciais e aviso de Donald Trump para que deixem a cidade "imediatamente". País não tem bunkers para civis nem sistemas de alerta.Na última sexta-feira, 13 de junho, o Exército israelense lançou um ataque sem precedentes contra o Irã, numa tentativa de interromper o programa nuclear da República Islâmica. Em menos de cinco dias, porém, os mísseis israelenses passaram a mirar também alvos em Teerã, a capital iraniana, levando a população a deixar a cidade às pressas.
As redes sociais foram tomadas por vídeos que mostram quilômetros de congestionamentos nas estradas e nas saídas da cidade. Longas filas se formaram também nos postos de gasolina e o combustível rapidamente se tornou escasso. "É difícil de acreditar, estamos no meio de uma guerra", relatam moradores em um desses vídeos.
A incerteza sobre o próximo alvo israelense tem impulsionado os iranianos a deixar a capital. "Não se sabe quando, e pior ainda, onde o próximo míssil poderá cair”, dizem testemunhas em outro vídeo.
O medo se acentuou após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicar nas redes sociais que os 10 milhões de moradores deveriam deixar a cidade "imediatamente". Segundo a agência de notícias DPA, partes da cidade já estão completamente desertas.
"Civis presos em fogo cruzado"
"Os civis iranianos estão presos em fogo cruzado", disse à DW a analista iraniano-americana Holly Dagres, pesquisadora sênior do Washington Institute.
"Os iranianos estão profundamente chocados e assustados neste momento. Por 46 anos, viveram numa república islâmica que, essencialmente, faz guerra contra seu próprio povo. Essa situação é resultado das decisões de um regime que o povo já não quer", disse a especialista sobre o regime comandado pelo aiatolá Ali Khamenei.
"Os iranianos não querem guerra nem derramamento de sangue. Estão completamente impotentes diante dessa situação", afirmou.
Muitos não sabem como se proteger nem para onde fugir. Ao contrário das cidades israelenses, a capital iraniana não conta com abrigos antiaéreos. Por isso, o Irã anunciou que começaria a abrir mesquitas, estações de metrô e escolas para servirem como abrigos improvisados para civis.
A declaração provocou uma onda de indignação nas redes sociais. Muitos usuários iranianos criticaram a ausência de proteção contra a população.
"Esta não é uma guerra entre os povos iraniano e israelense, e deve acabar o quanto antes", escreveu o sociólogo Mehrdad Darvishpour, professor na Universidade de Mälardalen, na Suécia, à DW.
"A única forma de evitar uma destruição maior e descontrolada causada por essa guerra é que todos que defendem a paz e a democracia exerçam pressão global para deter os ataques israelenses e forçar o Irã a negociar."
Israel diz que "moradores de Teerã pagarão o preço"
Desde o início do conflito, Israel bombardeou instalações nucleares, unidades de fabricação e manutenção de mísseis, além de campos de petróleo e gás natural iranianos. Contudo, os ataques rapidamente passaram a atingir também cidades.
Segundo o Irã, mais de 200 pessoas morreram nos bombardeios, a maioria civis. Outras 1.200 ficaram feridas.
A República Islâmica respondeu à agressão com baterias de mísseis que também atingiram cidades israelenses e deixaram 24 mortos. Quase 600 pessoas ficaram feridas.
A escalada sem fim do conflito ampliou o medo e a sensação de impotência entre a população iraniana. Na manhã de segunda-feira (16/06), após ataques noturnos iranianos que causaram mais mortes em Israel, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, ameaçou retaliações diretas contra a capital. "Os moradores de Teerã pagarão o preço em breve", escreveu.
Horas depois, Katz amenizou a declaração. "Quero deixar claro o óbvio: não há intenção de prejudicar os habitantes de Teerã, como o ditador assassino faz com os moradores de Israel."
"Dizemos aos cidadãos de Teerã: 'Salvem-se!'", alertou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Contudo, não há informações sobre para onde as pessoas deveriam fugir ou onde estariam realmente seguras.
Muitos dos que fogem da área de Teerã seguem para o norte, em direção ao Mar Cáspio, para cidades menores no interior ou para as fronteiras do Irã.
As ruas antes movimentadas agora estão silenciosas. Alguns supermercados permanecem abertos, mas as prateleiras estão praticamente vazias. Quedas de energia e cortes de água acontecem com frequência, pressionando os moradores que já enfrentam temperaturas diárias acima de 35°C.
Estrangeiros fogem via Azerbaijão
Segundo a agência de notícias AFP, mais de 600 cidadãos estrangeiros de 17 países atravessaram do Irã para os vizinhos Azerbaijão e Armênia desde que Israel começou a atacar o país.
Os países fazem fronteira com o noroeste do Irã. A travessia mais próxima, para o Azerbeijão, fica a cerca de 500 quilômetros de Teerã por estrada.
Os evacuados, que cruzaram a fronteira pelo posto de controle de Astara, na costa do Mar Cáspio, estão sendo transportados para o aeroporto de Baku e "levados para seus países de origem em voos internacionais", disse uma fontes à AFP.
O Azerbaijão fechou suas fronteiras terrestres em 2020 devido à pandemia de Covid-19 e as manteve fechadas desde então.
"Diante da necessidade de evacuação, o Azerbaijão abriu temporariamente sua fronteira para aqueles que deixam o Irã", disse o funcionário.