Rio – O feriado da Consciência Negra foi comemorado, nesta quarta-feira, com roda de capoeira e a lavagem da estátua de Zumbi dos Palmares, no centro da cidade. Com a participação de religiões de matriz africana, a lavagem do monumento já é uma tradição – este ano o ato completa 34 anos no município.
As atividades começaram cedo. Zumbi é o representante da resistência negra contra a escravidão no Brasil. De acordo com presidente do Conselho Estadual dos Direitos do Negro (Cedine), Luiz Eduardo Negrogun, a data é uma maneira de celebrar a memória, a cultura e a ancestralidade dos negros.
“É um momento de reflexão contra o racismo, que ainda está muito forte, e a intolerância religiosa. A lavagem do monumento de Zumbi representa a purificação e a integração entre o mundo físico e a espiritualidade”, explicou.
Grupos de capoeiristas também se apresentaram no local. A manicure Feliciana Pereira, de 67 anos, participava da roda. Há cinco anos ela participa da celebração no Centro:”Tenho orgulho da minha cor. Se eu nascesse outra vez, gostaria de ter a cor do carvão. Essa data é importante para refletirmos sobre o racismo.
A candomblecista Ione Paiva, de 66, acredita que a data também é uma oportunidade de valorizar a cultura africana. “É um momento de gritarmos pela a importância da nossa raiz e religião”, comentou.
A cozinheira Jaciara da Cruz Gomes, de 49, conta que particpa da celebração a data há 30 anos. “Zumbi nunca foi esquecido. É uma tradição da minha família vir para a homenagem no Centro”, orgulhou-se Jaciara.
Antes da lavagem, membros de entidades dos movimentos negros e sociais cantaram músicas e depositaram flores no monumento de Zumbi. Além dalavagem do Monumento Zumbi, por todo o estado, as comemorações contaram com shows de música, mostra fotográfica, rodas de conversas, feijoadas, feiras de artesanato e samba.
Escultura representa a opressão da mulher negra
A artista plástica e carnavalesca Christine Moutinho teve uma obra sua exposta no Monumento a Zumbi dos Palmares neste Dia da Consciência Negra. A escultura, que representa a opressão da mulher negra, foi concebida dentro do barracão da Portela, na Cidade do Samba, escola do coração da artista.
Aproveitando materiais doados pela agremiação, Christine Moutinho reciclou resíduos do último desfile da Azul e Branco. Denominada Aiyabá, a escultura, que não possui braços, pernas, boca nem olho. “É para mostrar que tudo continua sob forte tutela de uma velada escravidão”, explicou.
Lei reconhece João Cândido como herói
A Lei Estadual 8623/2019, que reconhece o marinheiro João Cândido Felisberto, conhecido como Almirante Negro, como herói do Rio de Janeiro foi promulgada ontem, no Diário oficial do Estado do Rio.
João Cândido foi líder da Revolta da Chibata, um motim de marinheiros ocorrido em 1910, contra o uso de chibatadas por oficiais como punição para militares subalternos. A lei é dos deputados André Ceciliano e Waldeck Carneiro (PT).
O Livro dos Heróis do Estado do Rio de Janeiro se destina à inscrição de pessoas ilustres, mortas há mais de 50 anos, que tenham – por seus atos – contribuído para a defesa, o progresso ou desenvolvimento do Estado do Rio, do Brasil ou da Humanidade. O Livro fica na ALERJ, sendo aberto à visitação.


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