Um nome polêmico, lucros crescentes: esse é o retrato do gigante agroquímico americano Monsanto, que deverá pagar cerca de 290 milhões de dólares a um jardineiro americano por não ter informado sobre os riscos de seu pesticida Roundup.

Nada ilustra melhor a boa saúde financeira da Monsanto do que os esforços do grupo químico e farmacêutico alemão Bayer, com o objetivo de comprá-la em junho passado. Em 2017, o lucro líquido da empresa foi de mais de 2 bilhões de dólares, com um volume de negócios de cerca de 15 bilhões.

Depois de ter elevado três vezes sua oferta, a Bayer finalmente pôs sobre a mesa mais de 60 bilhões de dólares para adquirir uma empresa chamada de “Monsatan”, ou “Mutanto”, por seus críticos.

Uma vez concluída a megafusão, o grupo alemão rapidamente informou que a marca “Monsanto” seria abandonada.

Há décadas, o nome Monsanto tem sido associado a produtos controversos por seus efeitos sobre os seres humanos e sobre o meio ambiente, principalmente o Roundup, que contém glifosato, no centro de uma ação judicial nos Estados Unidos.

Fundada em 1901, em St. Louis, no Missouri, a Monsanto começou produzindo sacarina, um potente adoçante, para, em seguida, lançar-se na agroquímica a partir da década de 1940.

A Monsanto tem sido associada à fabricação, junto com outros grupos químicos, do desfolhante conhecido como “Agente Laranja”, usado ​​pelo Exército dos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã.

Seu principal e controverso pesticida, o Roundup, foi lançado em 1976. Depois, a Monsanto desenvolveu a primeira célula vegetal geneticamente modificada, antes de se especializar em transgênicos. As primeiras sementes geneticamente modificadas, concebidas para resistir ao Roundup, são comercializadas desde a década de 1990.

O Roundup contém glifosato, uma substância muito polêmica que é objeto de estudos científicos conflitantes quanto à sua natureza carcinogênica. Também é acusado de ser prejudicial ao meio ambiente, de contribuir para o desaparecimento das abelhas, ou de ser um disruptor endócrino.

O glifosato é o pesticida mais utilizado no mundo sob várias marcas, desde que a patente da Monsanto se tornou pública em 2000.

– “Ecocídio” –

Embora a Monsanto tenha sido alvo de vários processos judiciais em diferentes níveis em todo mundo sobre diferentes assuntos, o processo aberto em São Francisco a respeito do Roundup e sobre seus possíveis efeitos carcinogênicos é o primeiro desse tipo.

Em 2012, o grupo havia aceitado um acordo de US$ 93 milhões com o município de Nitro, na Virgínia Ocidental (leste), que abrigou nos anos 1950 e 1960 uma fábrica que produzia o ingrediente principal do Agente Laranja. As autoridades locais acusaram a fábrica de ser a causa dos problemas de saúde de seus cidadãos.

Na França, a Justiça condenou o grupo norte-americano em segunda instância, em setembro de 2015, a indenizar um agricultor, intoxicado em 2004 por vapores emitidos por outro produto da Monsanto, o Lasso (contendo alacloro), banido em vários países desde então. A Monsanto recorreu.

A autorização de culturas transgênicas na União Europeia provocou polêmica, controvérsias e batalhas judiciais nos últimos 20 anos.

Nos Estados Unidos, os agricultores foram repetidamente derrotados nos tribunais em suas tentativas de contestar as culturas de sementes transgênicas da Monsanto.

Em 2017, um tribunal civil informal de cinco juízes profissionais formados em Haia, na Holanda, considerou a empresa culpada de violações dos direitos humanos, impacto ambiental negativo e crime de “ecocídio”. A opinião era puramente consultiva, destinada a alimentar as leis existentes, por meio da criação de uma jurisprudência dentro do Direito Internacional.

Segundo este “Tribunal Monsanto”, “as atividades (do grupo) causam danos ao solo, à água e, em geral, ao meio ambiente”.

A Monsanto denunciou uma “encenação (…) anti-tecnologia agrícola e anti-Monsanto”, negando as “evidências científicas existentes”.

O grupo emprega atualmente 20.000 funcionários em todo mundo, com receita anual de cerca de US$ 15 bilhões.