Modelo de negócio das teles não é sustentável e precisa mudar, afirma diretor da GSMA

O diretor geral da associação global das operadoras de telecomunicações (GSMA, na sigla em inglês), Mats Granryd, afirmou nesta segunda-feira, 3, que o modelo de negócios das empresas não é sustentável e precisa mudar. A entidade representa 750 operadoras ao redor do mundo.

O problema comum, segundo ele, é que investimentos estão cada vez maiores na implementação de redes e novas tecnologias – como o 5G – mas o faturamento tem crescido muito pouco ou nada, o que exige uma revisão desse modelo.

“Claramente, isso não é sustentável. Algo precisa mudar. Ou paramos de investir nas redes móveis, o que teria consequências terríveis para a sociedade, ou a receita deve começar a aumentar”, ressaltou Granryd, a uma plateia de representantes de operadoras, fornecedores e governos, no Mobile World Congress (MWC), em Barcelona.

O diretor geral da GSMA citou que as operadoras financiam o equivalente a 85% da infraestrutura que de internet móvel – como torres, antenas, estações, entre outros – mas que as próprias teles não têm se beneficiado. “Nossas redes são a base das economias digitais. E com todo o crescimento do estilo de vida digital, alguém poderia pensar que nossa receita também cresceria. Mas infelizmente essa não é o caso”, ponderou. “Obter retorno sobre esse investimento é um desafio.”

O jeito é procurar fontes alternativas de receita, como a adoção de serviços baseados no uso de inteligência artificial (IA) generativa, propôs o diretor geral da GSMA. Isso poderia agregar até US$ 100 bilhões à indústria de telecomunicações por ano, segundo estudo da consultoria McKinsey feita a pedido do setor. O segredo, segundo ele, é explorar cada vez mais o uso de dados. “Dados são o combustível que impulsiona a IA. E como indústria, temos muito disso”, enfatizou.

Há bastante expectativa da GSMA para a potencial combinação da IA ao Open Gateway, movimento lançado pela associação há dois anos com o intuito de padronizar o acesso às redes e facilitar o desenvolvimento de novos aplicativos e funcionalidades nos celulares.

De lá para cá, já existem 52 redes comerciais habilitando mais de 200 aplicações. TIM, Vivo e Claro, por exemplo, fazem parte do movimento e criaram ferramentas de segurança bancária, que já estão sendo comercializadas no Brasil. Segundo a GSMA, o Open Gateway representa um mercado de quase US$ 300 bilhões a ser explorado mundo afora.

Espectro

O diretor geral da GSMA também defendeu que os órgão reguladores em cada um dos países facilite o acesso das operadoras às faixas de frequência (o chamado espectro) por onde transitam os sinais de internet. Esse é o principal ativo das empresas e obtido mediante concessão dos governos.

“Quando crescemos, precisamos de mais espectro, mais oxigênio. Então, o planejamento é vital”. A cada geração de internet – 2G ao atual 5G – a largura necessária de espectro tem crescido, chegando a 100 MHz no 5G.

Granryd disse que, nos próximos anos, a indústria de telecomunicações vai necessitar de 400 Mhz, o que precisa ser estudado desde já pelas agências reguladoras. O espaço ideal para isso está na faixa de 6 Ghz, que será alvo de licitação em algum momento do futuro. “Para continuarmos investindo em nossas redes, precisamos de clareza total para os próximos cinco anos”, afirmou.

*O jornalista viajou a Barcelona para cobrir a MWC a convite da Huawei