Mesmo quando já se sabe que meninas e meninos podem vestir as cores que quiserem, certos itens do vestuário ainda nascem associados ao público feminino. A troca de paradigma está em curso, mas acontece de forma gradual. Entre os famosos, Bruno Gagliasso e Marcos Frota já apareceram de bota de salto alto, enquanto nomes da nova geração, como o ator João Guilherme e o cantor Harry Styles, vivem abusando de transparências, croppeds, colares e casacos acinturados.

A cada nova tendência, os it boys (ou “garotos que ditam tendências”, em alusão às bastante conhecidas it girls) se tornam alvos de polêmicas — não mais que o pintor Flávio de Carvalho que saiu de saia, blusa bufante e meia arrastão durante performance em pleno centro de São Paulo, em 1956.

Setenta anos mais tarde, marcas acompanham o movimento dos que buscam romper as barreiras do vestir e os artistas, como de praxe, seguem feito referência. “Os jovens estão completamente conectados a celebridades, ao TikTok, ao look do dia”, diz Lucius Vilar, designer e professor da Faculdade Santa Marcelina e do Istituto Europeo di Design (IED) São Paulo. “Os meus alunos, por exemplo, estão observando o que os dançarinos de Beyoncé e de Madonna vestem, e eles utilizam elementos femininos.”

Moda ‘genderless’: bolsa, salto alto e transparência ganham versão masculina
It boys: acima, o cantor Harry Styles, que se tornou investidor da marca britânica S. S Daily e não economiza nas joias e transparências. Abaixo, o ator João Guilherme, também adepto de decotes, croppeds e salto alto (Crédito:Divulgação )

 

Moda ‘genderless’: bolsa, salto alto e transparência ganham versão masculina
(Divulgação)

Na coleção Primavera-Verão da Ferragamo, as bolsas reinam absolutas nas mãos dos rapazes — e até chegam a ser protagonistas de um movimento inverso, inspirando, elas, as coleções femininas.

O design que transita pelos gêneros vem com força nas últimas coleções assinadas pelo diretor criativo Maximilian Davis, segundo informação da assessoria da grife fundada há quase 100 anos na Itália.

Apesar do evidente apreço pela estética, os modelos ditos masculinos ainda estão muito ligados à funcionalidade:
são grandes, do corpo até as alças,
possuem chaveiro e etiqueta de endereço,
além de tachas de apoio para quando depositadas no chão.

O uso pelos homens de bolsa e de outros itens conectados ao feminino vem deixando de ser tabu. No último desfile da S.S Daily na Pitti Uomo – evento de moda em Florença, na Itália –, lenços, decotes, conjuntos acinturados e até um maiô masculino inspirado nos modelos italianos da década de 1940 invadiram as passarelas.

Lá fora, o estilo genderless está mais aparente. “Começamos a ver os produtos em lojas de departamento e nas ruas, inclusive usados por homens heterossexuais”, diz Vilar.

Ele lembra um ponto importante nas criações do tipo: as modelagens e os acabamentos precisam atender às diferenças proporcionais entre os corpos masculinos e femininos.

Por aqui, cresce o número de campanhas que visam a fortalecer uma moda diversa e inclusiva. A marca Converse já possui um tênis All Star com salto e, em sua nova linha, a Pride 2024, o clássico Chuck 70 ganha brilho prateado e solado com degradê arco-íris neon. A moda, mais que nunca, se torna democráticaModa ‘genderless’: bolsa, salto alto e transparência ganham versão masculina