Mobilização de países árabes sobre Jerusalém é fachada, dizem analistas

Mobilização de países árabes sobre Jerusalém é fachada, dizem analistas

Os dirigentes árabes adotaram em uma cúpula uma postura firme contra a decisão dos Estados Unidos de reconhecer Jerusalém como capital de Israel e transferir sua embaixada para a Cidade Santa, mas os analistas duvidam que as palavras se traduzam em ações.

A 29ª Cúpula Árabe, que o rei Salman da Arábia Saudita chamou de “Cúpula de Jerusalém”, tachou de “ilegítima” a decisão adotada pelos Estados Unidos no fim de 2017.

“Jerusalém Oriental continuará sendo a capital da Palestina árabe”, afirmaram os dirigentes. O rei saudita anunciou a doação de 150 milhões de dólares para “apoiar a administração dos bens islâmicos” na parte leste (palestina) ocupada e anexada por Israel.

Na prática, os analistas consideram que nem a Arábia Saudita nem os outros países árabes parecem dispostos a ir além de declarações, e se colocarem contra Washington em um contexto de forte tensão entre Riad e Irã.

Em 6 de dezembro, o presidente americano, Donald Trump, enfureceu os palestinos ao anunciar o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel e a transferência da embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para a Cidade Santa, rompendo com décadas de consenso internacional.

Os palestinos, que querem converter a parte oriental de Jerusalém na capital do Estado ao qual aspiram, congelaram os contatos com os responsáveis americanos.

“Em termos gerais, as cúpulas da Liga Árabe têm mais retórica do que ação. Não acho que isso vá além de declarações. O essencial para a Arábia Saudita é a relação com Washington”, afirma Denis Bauchard, especialista em Oriente Médio do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri).

De fato, em coletiva de imprensa ao fim da Cúpula de Dhahran (leste), o ministro saudita das Relações Exteriores, Adel al-Jubeir, atenuou as críticas afirmando que seu país continuará tendo relações “fortes e estratégicas” com os Estados Unidos.

– Inimigo em comum –

No começo de abril, o poderoso príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, de 32 anos, considerou que os israelenses também têm “o direito” ao seu próprio Estado, no que se pode interpretar como um sinal de aproximação com Israel, com quem Riad compartilha o inimigo: Irã.

O governo Trump prevê inaugurar em maio a embaixada americana em Jerusalém para que coincida com o 70º aniversário da criação de Israel – 14 de maio no calendário ocidental.

Ghasan al-Jatib, professor universitário e ex-ministro palestino, considera que os dirigentes árabes “não são capazes (de enfrentar Trump diretamente) e tampouco querem arriscar suas relações com os Estados Unidos”.

A especialista palestina Nur Odeh concorda com ele: “Levando em conta o alcance dos problemas no mundo árabe, nenhum governo enfrentará Trump”.

Um responsável árabe, que pediu anonimato, resume: “Tentam melhorar o máximo possível a posição dos palestinos, mas não chegarão ao confronto” com os Estados Unidos.

– ‘Ameaça iraniana’ –

Segundo Karim Biyst, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris), os sauditas “estão tão preocupados com a ameaça iraniana que se dão conta de que poderiam ter que coordenar os esforços anti-iranianos com Estados Unidos e Israel”.

A Arábia Saudita (sunita) e o Irã (xiita) há anos estão envolvidos em conflitos na Síria, no Iêmen, Iraque e Líbano, nos quais apoiam partes que se enfrentam.

A cada ano, a cúpula “rechaça as ingerências iranianas nos assuntos dos países árabes e denuncia as tentativas” de romper a segurança regional.

A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos afirmam que o Irã aproveitou o acordo nuclear para agir na região, explica Khalil Harb, redator-chefe do Diario, um site especializado em assuntos do Golfo.

Donald Trump considera que este acordo apresenta lacunas e deu até 12 de maio às potências europeias para endurecê-lo, sob a ameaça de se retirar.

“Em um contexto político como esse, Riad não quer colocar em apuros ou incomodar os Estados Unidos”, conclui Harb.