Calder e a Arte Brasileira/ Itaú Cultural, SP/ até 23/10

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Alexander Calder (1898-1976) é hoje uma das maiores unanimidades da arte internacional. Nove entre dez feiras de arte tem, entre suas peças mais cobiçadas, um móbile do artista norte-americano. Mas nem sempre foi assim. No auge de sua vida produtiva, nos anos 1940, seu trabalho tinha muito pouca ressonância do sistema de arte de seu país. Quem, justamente, veio a tornar-se seu maior interlocutor crítico então, foi o brasileiro Mário Pedrosa (1901-1981), autor de textos seminais sobre o escultor. “Instalou-se ali, com enorme cumplicidade, a semente do que brotaria uma década depois no neoconcretismo”, afirma o crítico de arte Luis Camillo Osório, curador da exposição “Calder e a Arte Brasileira”, em cartaz no Itaú Cultural.

Essa cumplicidade é o mote da curadoria, que atenta para diversas formas de correspondência entre Calder e os artistas brasileiros – tantos aqueles de sua geração quanto artistas contemporâneos em atividade hoje. A tese de Osório é que, com simplicidade, graça e movimento, Calder estaria para o neoconcretismo assim como a austeridade maquínica e serial do artista suíço Max Bill estava para o concretismo.

Nos três andares do instituto, uma seleção de 32 obras dialoga com 28 peças brasileiras. Entre as relações traçadas pelo curador, talvez a mais óbvia seja Carlos Bevilacqua, que tem uma pesquisa com móbiles fabricados com aço inox, chumbo, madeira e polipropileno. Já o “Objeto Cinético” de Abraham Palatnik, por exemplo, guarda a mesma elegância e harmonia na composição dos elementos e na escolha dos materiais – fórmica, e chapas de metal pintado — com a diferença que, em vez de lidar com a gravidade, incita o movimento da peça com motor e engrenagens.

O mais insuspeito brasileiro a se relacionar com o norte-americano talvez seja o carioca Ernesto Neto. Ao participar da palestra de Alexander S.C. Rower, presidente da Calder Foundation, de Nova York, Neto exaltou não só o caráter lúdico, mas também espiritual do escultor, como as maiores influências de seu trabalho. Neto está representado na exposição com a instalação “NaveMeditaFeNuJardim” (2015). PA