Dona da casa, a Alemanha sempre emplaca diversos filmes em todas as seções da Berlinale e ainda tem uma que é específica – Perspective Deutsches Kino, com as novas tendências da produção alemã. Dois filmes já foram exibidos na mostra competitiva. Um deles é só uma questão de tempo paras chegar às salas brasileiras. Foi comprado por Jean-Thomas Bernardini, da Imovision. Undine, de Christian Petzold, transpõe o mito grego de Ondina para uma Berlim em transformação.

É interpretado por Paula Beer e Franz Rogowski, a mesma dupla de outro filme do autor – Em Trânsito. Paula é a moderna Ondina, e como na mitologia ela representa o amor absoluto, possessivo. De cara, adverte ao amante que o matará – se for infiel. Petzold mistura Bach com Bee-Gees na trilha e impõe à sua atriz um caminhar meio robótico, que só Rogowski não vê. Se prestasse atenção, o personagem talvez se desse conta da sinuca em que se está metendo.

Melhor é My Little Sisters, de duas diretoras, Stéphanie Chuat e Véronique Reymond, com Nina Ross, atriz frequente nos filmes de Pertzold, e Lars Eidinger, o oficial alemão do belo Persian Lessons. O longa do ucraniano Vadim Perelman, aliás, virou a sensação do mercado. Os norte-americanos estão promovendo um leilão que jogou o preço do filme lá em cima, não se sabe direito se para lançar nos cinemas ou fazer o remake.

Hollywood adora as (boas) histórias de Holocausto. O grande problema de My Little Sister, se é que chega mesmo a ser problema, é que o filme já ganhou o rótulo de drama pequeno-burguês.

DR – discutir a relação. Há um casal em cena, com dois filhos. São intelectuais, e ela, a personagem de Nina, é dramaturga. Só que a relação dissecada por Stéphanie e Véronique não é bem a de marido e mulher, mas de irmãos. Nina é irmã gêmea de Eidinger. A irmã mais nova, little sister, porque nasceu dois minutos depois. Ele é ator, e está morrendo de câncer.

Nina tem uma dedicação absoluta, obsessiva pelo irmão. Doa sangue, submete-se a transplante. Nada dá certo. A mãe, interpretada por Marthe Keller – a Fedora de Billy Wilder -, o marido, o ex, todos tentam chamar Nina à razão. Ela briga com todo mundo, isola-se.

É um filme muito bem feito, e principalmente muito bem interpretado. Nina já é candidata a melhor atriz – sempre é -, mas disputa com Mawisi Tulani, que faz a ex-escrava do brasileiro Todos os Mortos.

A Berlinale de 2020 criou uma nova seção – Encounters – para celebrar a liberdade de criação. Dela participa um veterano que ajudou a revolucionar o cinema alemão nos anos 1960. Alexander Kluge, em parceria com Khavn, Lilith Stangenberg e Ian Madrigal, renova o mito de Orfeu por meio de uma inversão de gênero, em Orfea. Dessa vez, é ela que vai ao inferno para resgatar seu Euridiko. O filme terá sua primeira exibição nesta terça.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.