SÃO PAULO (Reuters) – A mistura de biodiesel no Brasil deverá voltar a crescer, retomando o cronograma de uma resolução do governo, para ficar acima dos 10% atuais definidos pela administração de Jair Bolsonaro, indicou nesta quinta-feira um integrante da equipe de transição.

Na última segunda-feira, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) decidiu manter a atual mistura de 10% de biodiesel no diesel até março.

Esse percentual de 10% vigorou durante 2022 por questões de preços da matéria-prima após uma quebra na safra de soja, embora o cronograma do programa indicasse 14% para a maior parte deste ano.

Segundo o senador Jean Paul Prates (PT-RN), da equipe de transição, a mistura de 10% estabelecida pelo governo atual será avaliada nos primeiros 90 dias do novo governo, e uma elevação do “mix” poderia acontecer mesmo antes do final de março.

“Até 90 dias, o que não quer dizer que seja 90 dias, pode acontecer aos 60 dias, aos 65 dias…”, disse ele a jornalistas.

A reafirmação pelo governo da mistura de 10%, que significa menos produção de biodiesel do que a indústria se preparou para fabricar, enfureceu o setor, que contava com 14% em janeiro e fevereiro e 15% já a partir de março, conforme resolução anterior do CNPE, de 2018.

“Nos 90 dias se discute isso”, disse Prates, ao ser questionado sobre B14 e B15. “Provavelmente voltar à escala de crescimento da mistura”.

Ele comentou também sobre uma orientação do CNPE para a admissão de outras rotas tecnológicas para integrar a mistura de biodiesel, como o HBIO, ou diesel R5 da Petrobras, obtido pelo coprocessamento de diesel com óleo vegetal.

“O que a gente não quer é ter eventualmente HBIO, eu acho que dá pra discutir as duas coisas, o HBIO ficar e o horizonte de crescimento (do biodiesel) voltar a ser o escalonado que estava programado”, acrescentou.

A admissão de novas rotas, assim como a mistura menor, enfureceram o setor de biodiesel, que afirmaram confiar no novo governo para reverter as decisões do CNPE.

O presidente da associação Abiove, André Nassar, disse que estava preocupado sobre os rumos da política de biodiesel, mas que agora está “mais tranquilo”.

“Acho que a questão do biodiesel no governo de transição, eles têm uma boa percepção. Não é um assunto que eles não conhecem, não estão interessados. Pelo contrário”, destacou.

(Por Roberto Samora, com reportagem adicional de Ana Mano e Ricardo Brito)

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