A misoginia ou aversão às mulheres está no coração da ideologia bolsonarista. Ao longo de sua história política, o presidente deu várias demonstrações de que menospreza a condição feminina, e seus filhos seguem a mesma cartilha, assim como os ideólogos e os seguidores do regime. Jair Bolsonaro se notabilizou como misógino nos ataques feitos à deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), em 2014, quando disse que ela “não merecia ser estuprada porque é muito feia e não faz seu tipo”. A agressão desmedida lhe rendeu uma retratação pública, uma condenação por danos morais e uma multa de R$ 10 mil, sacramentada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Desde então ele vem fazendo vários ataques despropositados contra as mulheres. Em 2019, convidou, por exemplo, homens estrangeiros para virem fazer turismo sexual no Brasil. “Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”, disse. Entre outros disparates tentou justificar os rendimentos inferiores das mulheres em relação aos homens no mercado de trabalho. “O cara paga menos para a mulher porque ela engravida”, declarou.

“A construção do poder político por essas figuras se baseia no que há de pior na cultura brasileira” Maria do Rosário, deputada federal (PT-SP) (Crédito:Pedro Ladeira)

Ofensa sexista

Agora, vem seu filho 03, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que costuma fazer ofensas sexistas contra mulheres jornalistas e ex-namoradas, e insinuou que a responsabilidade pelo acidente que abriu uma cratera ao lado do Rio Tietê, em São Paulo, é da empresa construtora que contratou mulheres para cargos técnicos. Eduardo postou um vídeo no Twitter que associa a cratera com uma entrevista em que diretora da Acciona, responsável pela obra, defende a contratação de mulheres pela empresa. “Procura sempre contratar mulheres, mas por qual motivo? O homem é pior engenheiro?”, indagou. “Quando a meritocracia dá espaço para uma ideologia sem comprovação científica o resultado não costuma ser o melhor. Escolha sempre o melhor profissional, independente da sua cor, sexo, etnia”, completou. O Instituto de Engenharia divulgou uma nota de repúdio ao vídeo publicado por Eduardo “que desmoraliza colaboradoras de empresa que atua nas obras da Linha 6 Laranja do Metrô”. Para o instituto, trata-se de “um desserviço à sociedade”, mas para o bolsonarismo é mais uma artimanha para marcar a posição anti-mulheres e avacalhar a discussão de gênero.

“A construção do poder político por essas figuras se baseia no que de pior existe na cultura brasileira, não só gerando palavras de ódio, mas incentivando a violência contra as mulheres e os feminicídios”, diz a deputada Maria do Rosário. “Em vez de buscar a superação de problemas históricos, o que se esperaria nessa altura do século 21, o governo revela uma vontade retrógrada de rebaixar as pessoas do sexo feminino“. Para a deputada, Bolsonaro pretende, exatamente, encontrar apoio político entre segmentos de eleitores machistas, que infelizmente ainda sobram na sociedade, mas paga o preço de perder votos entre as mulheres, como indicam diversas pesquisas de opinião divulgadas recentemente. Maria do Rosário diz que, de alguma forma, o discurso grosseiro e raivoso leva muitas eleitoras a uma tomada de consciência sobre a enrascada que significam as políticas públicas desse governo para as ambições de igualdade e de respeito às mulheres em todos os ambientes – profissionais, políticos, familiares etc.

As pesquisas recentes mostram que o prestígio de Bolsonaro entre o público feminino despenca. A última delas, da PoderData, divulgada na semana passada, mostra que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 44% das intenções de votos entre as mulheres na simulação do 1º turno enquanto Jair Bolsonaro tem apenas 22%. Já entre eleitores homens, os dois candidatos estão praticamente empatados, com 39% para Lula e 38% para Bolsonaro. A tendência é que a rejeição ao atual presidente no público feminino cresça ainda mais nos próximos meses, por conta de declarações ofensivas feitas por ele e seus filhos. Bolsonaro, porém, despreza os levantamentos sobre intenção de voto. “Segundo pesquisa, as mulheres não votam em mim, a maioria vota na esquerda. Agora, não sei, pesquisa a gente não acredita, se há reação por parte das mulheres, faz uma visitinha em Pacaraima, Boa Vista, nos abrigos, e vê como é que estão as mulheres fugindo do paraíso socialista defendido pelo PT”, disse. A realidade, porém, é que as mulheres já perceberam que esse governo pretende levá-las de volta ao passado e a uma condição submissa, tirando suas possibilidades de emprego, minimizando sua capacidade de atuar politicamente e empoderando homens violentos e intolerantes que rebaixam suas parceiras.