Coluna: Guilherme Amado, do PlatôBR

Carioca, Amado passou por várias publicações, como Correio Braziliense, O Globo, Veja, Época, Extra e Metrópoles. Em 2022, ele publicou o livro “Sem máscara — o governo Bolsonaro e a aposta pelo caos” (Companhia das Letras).

Minoritários questionam troca no comando da Tupy

Acionistas minoritários acusam governo de interferência política na metalúrgica e dizem que escolhido como CEO, Rafael Lucchesi, não atende aos requisitos para a função

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Foto: Divulgação

Os acionistas minoritários da Tupy disseram terem sido pegos de surpresa com a decisão de troca no comando da companhia. CEO desde 2018, Fernando Rizzo vai deixar o cargo. O BNDESPar, braço de participações do BNDES, e a Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, que detêm 53% do capital da metalúrgica, resolveram lançar o nome de Rafael Lucchesi para substituir Rizzo.

Segundo fontes ouvidas pela coluna, Lucchesi não é um nome de consenso entre os investidores minoritários da Tupy, mas o governo, na função de controlador, estaria “enfiando o nome goela abaixo” dos descontentes. “Há uma ingerência muito grande”, diz um investidor.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tem uma investigação aberta para apurar possíveis irregularidades na nomeação dos ministros Carlos Lupi (Trabalho), Anielle Franco (Igualdade Racial) e Vinícius Carvalho (CGU) para o conselho da Tupy. A indicação dos ministros, de fato, causou um atrito entre Lula e o mercado.

Escolhido para o cargo de CEO, Lucchesi ainda não teve seu nome oficializado. Isso deve acontecer na próxima semana, quando o conselho se reúne antes da divulgação de resultados da empresa, marcada para o dia 27.

Uma fonte ouvida pela coluna apontou que o executivo não preencheria os requisitos previstos pelo estatuto do próprio BNDES para a indicação ao cargo na Tupy.

Isso porque o estatuto do BNDES prevê que o indicado do banco a cargos em empresas com investimento do banco deve possuir, necessariamente, curso superior completo e experiência de no mínimo três anos em cargos de gestão em empresas privadas ou estatais, ou cargo em comissão em órgãos ou entidades da administração pública.

Lucchesi é diretor da CNI (Confederação Nacional da Indústria), superintendente do Sesi e diretor-geral do Senai, esses últimos partes do Sistema S, que é considerado terceiro setor.

Procurado pela coluna, Vinícius Marques de Carvalho, ministro da CGU, disse que a Comissão de Ética Pública (CEP) da Presidência concluiu em 27 de janeiro não haver conflito de interesse na indicação dele ao conselho da Tupy.

“O procedimento da Comissão de Valores Mobiliários se restringiu ao encaminhamento de ofício à Tupy S.A., indagando sobre a realização de consulta à Comissão de Ética Pública da Presidência da República, esta sim responsável pela aplicação da Lei de Conflito de Interesses. Após a realização da consulta, tal possibilidade foi afastada.”

Por meio da assessoria de imprensa do Ministério da Igualdade Racial, Anielle Franco disse que as diligências do BNDES no processo de indicação e uma consulta à Comissão de Ética Pública não identificaram conflito de interesses na entrada dela no conselho.

A coluna entrou em contato com a assessoria de Carlos Lupi, mas não teve retorno até a publicação do texto.

Maior minoritário

Fontes ouvidas também acusam o maior acionista minoritário da Tupy, a gestora Trígono Capital, de atuar em conluio com a Previ em benefício próprio. A Trígono é parceira do BB Asset em negócios paralelos.

À coluna, Werner Roger, fundador da gestora, rechaçou a tese de que seria beneficiado de alguma forma ao apoiar a troca. “São 18 anos investidos continuamente na companhia, independentemente de quem foram os acionistas ou conselheiros nesse período. Essa declaração não tem nenhum sentido dado o tempo que nós investimos na companhia”, afirmou.

Roger também disse que as declarações contra a Trígono são “maldosas” e “inverídicas”.

Sobre a troca de Rizzo por Lucchesi, ele defendeu o direito de o BNDES, como acionista, sugerir o nome. Outros acionistas minoritários apontam que a escolha, sem passar por eleição com diversidade de candidatos para a função, seria “quebra de dever fiduciário” dos conselheiros.

O BTG Pactual, em comunicado ao mercado, afirmou que a troca no comando da Tupy foi uma “decisão um tanto inesperada” e deve “levantar questionamentos”. “Investidores devem aguardar maior clareza sobre a estratégia da nova liderança e o planejamento de longo prazo antes de aumentarem suas posições [na empresa]”, recomendou o banco.

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