ROMA, 07 MAR (ANSA) – Ele não foi candidato, seu governo sofreu uma contundente derrota nas urnas, mas, há dois dias, praticamente só se fala dele na Itália: Carlo Calenda, ministro do Desenvolvimento Econômico e protagonista da crise envolvendo a empresa brasileira Embraco, conseguiu dominar o noticiário político e ameaça abrir um racha na centro-esquerda do país.
Aos 44 anos de idade e com passagens por empresas como Ferrari e Sky, Calenda é filho da cineasta Cristina Comencini e construiu carreira no mundo empresarial, porém integra o governo do social-democrata Partido Democrático (PD) desde 2013.
Nesta quarta-feira (7), ele se filiou ao PD, que atingiu o ponto mais baixo de sua história ao obter menos de 20% dos votos nas eleições, e já entrou falando grosso. “Se o PD se aliar com o M5S [Movimento 5 Estrelas, partido mais votado nas eleições], minha filiação será a mais breve da história dos partidos”, escreveu no Twitter.
O discurso está em linha com a postura do secretário nacional da sigla, o ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, que rechaça a hipótese de dar sustentação a um eventual governo do movimento antissistema, mas Calenda também deixou claro que não reconhece mais a liderança do ex-premier.
“Temos um líder, e ele é o PDC [presidente do Conselho dos Ministros]”, respondeu a um seguidor na rede social, se referindo ao primeiro-ministro Paolo Gentiloni, também do PD. Desconhecido até pouco tempo atrás, Calenda está em ascensão dentro da esquerda. Ele integra o governo desde 2013, quando foi nomeado vice-ministro do Desenvolvimento Econômico pelo então premier Enrico Letta. Na época, Calenda pertencia ao Escolha Cívica, movimento centrista do ex-primeiro-ministro “técnico” Mario Monti, mas, dois anos depois, deixaria o partido e se aproximaria do PD.
Em março de 2016, foi nomeado, já por Renzi, representante da Itália na União Europeia, decisão que motivou protestos de diplomatas de carreira que eram contra a indicação de uma figura política e empresarial para um cargo equivalente ao de embaixador.
Mas Calenda ficou menos de dois meses no cargo, já que, em maio do mesmo ano, foi chamado para comandar o Ministério do Desenvolvimento, após a queda de Federica Guidi, envolvida em um escândalo de tráfico de influência. Com a troca de governo, em dezembro de 2016, foi mantido no posto.
Na chefia de uma das pastas mais importantes da Itália, Calenda ganhou holofotes ao se envolver pessoalmente na resolução de crises como a da Alitalia e da Embraco, subsidiária brasileira do grupo Whirlpool e que havia anunciado o fechamento de uma fábrica perto de Turim e a demissão de 497 pessoas – o corte foi suspenso até o fim deste ano.
Além disso, Calenda é usuário ativo do Twitter, onde responde cidadãos diretamente, com um estilo franco e, às vezes, irônico.
Após se filiar ao PD, ele deve participar da reunião do diretório da sigla na semana que vem, quando os dirigentes analisarão a derrota para os populistas nas eleições de domingo.
“Os cidadãos e filiados não entenderiam. É preciso ter dignidade e honra, sobretudo na derrota”, afirmou o ministro ao explicar sua recusa em apoiar o M5S. Mas ele está longe de ser unanimidade na centro-esquerda.
“Precisamos nos liberar o mais rapidamente possível de personagens como Calenda e recomeçar um caminho diverso”, afirmou o governador da Puglia, Michele Emiliano, representante de uma esquerda mais tradicional e adversário de Renzi dentro da legenda. “Essa é a notícia mais triste dos últimos dias”, acrescentou, sobre a filiação de Calenda.
O objetivo do ministro ainda é incerto. Ele já foi cotado como candidato a secretário do PD e como possível premier em um governo “técnico”. O certo, por enquanto, é que Calenda está tentando alçar voos maiores. Só não se sabe quais. (ANSA)