ROMA, 16 JAN (ANSA) – O ministro da Justiça da Itália, Alfonso Bonafede, virou alvo de críticas e até cobranças por sua renúncia após ter postado um vídeo no Facebook sobre a prisão de Cesare Battisti.   

A gravação, de pouco menos de quatro minutos, mostra fotos antigas do italiano e imagens de sua chegada em Roma e de sua partida para a Sardenha, mas foi editada de forma semelhante a um clipe musical, até com trilha sonora de fundo. As cenas incluem Battisti sendo fichado pela polícia.   

O vídeo contabiliza mais de 660 mil visualizações, porém também inúmeras críticas. “Que miséria. Um dos pontos mais baixos da República. Vocês conseguiram dar palco a um assassino que não merecia toda essa publicidade”, disse um internauta.   

“Parece o trailer de uma série policial de TV sem qualidade. Uma palhaçada que ofende pessoas e instituições”, comentou outro.   

Mas as críticas não se restringiram à internet. Mauro Palma, garantidor nacional dos direitos dos detentos, um cargo subordinado ao Estado, afirmou que o vídeo “consolida uma cultura de desagregação social”.   

Palma também fazia referência a uma declaração na qual Bonafede, que pertence ao antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), disse que Battisti “apodreceria” na cadeia. “A chegada [de Battisti] exigia uma postura sóbria no plano institucional e de comunicação, e não foi assim”, acrescentou, citando também um artigo do código penitenciário que prevê multas para quem não protege presos da curiosidade do público.   

Já o deputado Roberto Speranza, de centro-esquerda, chamou o vídeo de “indigno” e exigiu a renúncia do ministro da Justiça.   

“[O vídeo] Trai e violenta os princípios basilares da nossa Justiça. Um ministro da Justiça não pode fazer isso, ele deve se demitir”, escreveu no Twitter.   

A União das Câmaras Penais Italianas (UCPI), que representa os advogados de direito penal, afirmou que o episódio é “um dos mais vergonhosos e grotescos” da história republicana do país.   

Por meio de um comunicado, a entidade também criticou o ministro do Interior Matteo Salvini, que acompanhara Bonafede na chegada de Battisti.   

“É simplesmente inconcebível que dois ministros de governo de um país civil tenham achado que podiam fazer da chegada de um detento, ainda que foragido havia 37 anos, uma ocasião cínica de autopromoção propagandística”, declarou a UCPI. O braço da associação em Roma estaria pronto a denunciar Bonafede por causa do vídeo.   

O ministro da Justiça ainda não se explicou sobre o clipe, mas justificou o uso do termo “apodrecer” ao se referir a Battisti.   

“Queria apenas dizer que, na Itália, ninguém pode escapar da Justiça, e uma pessoa que cometeu crimes deve pagar”, afirmou.   

(ANSA)