CABUL (Reuters) – O governo do Taliban no Afeganistão disse nesta quinta-feira que proibiu mulheres de frequentar universidades em parte devido ao fato de as estudantes não aderirem à sua interpretação do código de vestimenta islâmico, em uma decisão que foi amplamente criticada no mundo.
Estudantes universitárias foram impedidas de frequentar os campi na quarta-feira, e o Ministério do Ensino Superior disse que seu acesso seria suspenso “até novo aviso”. A medida gerou forte condenação de governos estrangeiros e críticas de alguns afegãos, provocando protestos em cidades afegãs.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse que o Taliban está tentando condenar as mulheres do Afeganistão “a um futuro sombrio sem oportunidades”, proibindo-as de frequentar as universidades.
O ministro interino do Ensino Superior, Nida Mohammad Nadim, em seus primeiros comentários sobre o assunto, disse à emissora estatal afegã RTA que várias questões levaram à decisão, incluindo o fato de que estudantes do sexo feminino não estavam usando trajes islâmicos apropriados e que a interação entre estudantes de diferentes gêneros estaria ocorrendo.
“Elas não observaram o Hijab (código de vestimenta feminino islâmico), elas vinham com as roupas que a maioria das mulheres usam para ir a um casamento”, disse.
Desde que o Taliban assumiu o controle do Afeganistão em 2021, estudantes e professores dizem que as aulas universitárias foram separadas por gênero e as alunas ajustaram seus trajes para atender às instruções, como cobrir o rosto e usar cores escuras.
Dezenas de mulheres se reuniram em frente à Universidade de Cabul na quinta-feira para protestar, na primeira grande manifestação pública na capital desde a decisão.
O ministro do Ensino Superior disse em sua entrevista que o Taliban “pediu ao mundo para não interferir em nossos assuntos”.
Nadim disse que as discussões sobre a educação feminina estão em andamento.
O governo liderado pelo Taliban já havia recebido críticas, inclusive de governos estrangeiros, por não abrir escolas secundárias para meninas no início do ano letivo de março, abandonando os sinais anteriores de que o faria.
Nadim disse que a educação religiosa continua aberta às alunas.
Na capital, cerca de 50 manifestantes, principalmente mulheres, se reuniram do lado de fora da Universidade de Cabul com faixas e gritando: “A educação é nosso direito, as universidades devem ser abertas”.
No dia anterior, estudantes da Universidade de Nangahar, no leste do Afeganistão, também protestaram e estudantes de medicina do sexo masculino saíram dos exames protestando contra a exclusão de suas colegas de classe.
Protestos em larga escala tornaram-se raros no Afeganistão desde que o Taliban assumiu o controle do país, já que muitas vezes são encerrados à força por agentes de segurança. Os protestos dispersos que ocorreram são um sinal do descontentamento que a política do Taliban gerou, dizem os defensores.
Na quinta-feira, as nações ricas do Grupo dos Sete (G7) disseram que a perseguição de gênero pode constituir um crime contra a humanidade, em um comunicado condenando a decisão do Taliban sobre as universidades.
Nadim disse que a administração do Taliban respeita os direitos das mulheres de acordo com a lei islâmica.
A reação contra as restrições à educação feminina está complicando os esforços do governo liderado pelo Taliban para obter reconhecimento formal e o levantamento de sanções que estão prejudicando a economia, dizem diplomatas.
(Reportagem da Redação de Cabul)