O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Ramos, aguarda uma eleição presidencial “normal” em outubro, apesar das declarações desafiadoras de Jair Bolsonaro e de temer a ação de “radicais” do lado do presidente e de seu adversário, o esquerdista Lula.

Em entrevista no seu gabinete no Palácio do Planalto, Ramos afirmou ainda que Bolsonaro se manterá “institucional” nas celebrações do bicentenário da independência do Brasil, em 7 de setembro.

Em 2021, a data foi marcada pela participação de Bolsonaro em manifestações que exibiam slogans antidemocráticos e acusações ao Poder Judiciário. Neste ano, as celebrações serão a vinte e cinco dias do primeiro turno das eleições presidenciais.

Para Ramos, de 66 anos, a participação prevista do presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, deve evitar um “clima” de desafio.

“Não tem clima para ir num carro de som, botar o presidente de Portugal do lado como ele fez em São Paulo ou Brasília. É quase uma vacina, um remédio que vai certamente permitir que ele seja mais institucional”, disse Ramos, general da reserva do Exército, que acompanha seu “amigo” em cargos de confiança desde o início do mandato em 2019.

– “Como uma final Brasil-Argentina” –

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Bolsonaro, que declarou que “só Deus” pode tira-lo do poder, também disse que deseja “eleições livres, transparentes e auditáveis”, colocando em dúvida – sem provas – o sistema vigente de urnas eletrônicas.

Para os críticos, essas declarações podem ser uma estratégia para não aceitar uma eventual derrota.

O presidente tem 28% das intenções de voto no primeiro turno em 2 de outubro, frente a 47% do ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, segundo uma pesquisa do Instituto Datafolha em 23 de junho.

Ramos disse que espera eleições “normais”, com um clima de “final entre Brasil e Argentina”, no segundo turno em 30 de outubro.

No entanto, admite seus temores. “Não vou tentar fugir do tema, os radicais de um lado e do outro. A preocupação é sobre todos. O presidente não é radical, ele tem o discursos dele e tal”.

– Sem risco de golpe –

“Vão me perguntar se vai ter golpe? Golpe de que? De karatê? De jiu-jitsu? Estamos em 2022, não tem golpe”, ironiza sobre a possibilidade de uma ruptura democrática, acrescentando que Bolsonaro é um “democrata”.

Sobre os assassinatos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, em 5 de junho na Amazônia, o general qualificou como “barbaridade”.

“O alvo dos caras sempre foi o Bruno (…) que acreditava que podia transformar aquilo ali que era o trabalho dele(…) Ele se sentiu como fiscal de tudo, que tinha que regular lá, e aquela área é de fronteira, ali existe narcotráfico, garimpo ilegal, o que você possa imaginar de errado”, disse Ramos.

Ele destacou o papel do governo nas buscas de Phillips e Pereira.

“O que mais acontece na Amazônia é as pessoas se perderem. O que aconteceu com Pereira e Phillips? Houve uma comoção nacional, porque o cara era inglês e o Bruno tinha essa ligação(…) Quando aconteceu, já tinha enviado helicópteros, 200 homens, barcos da Marinha (…)Onde está escrito que o desaparecimento de duas pessoas na região amazônica é de responsabilidade de segurança nacional?”


– Fertilizantes russos –

Por último, Ramos se defendeu das críticas pela falta de uma condenação mais enfática de Bolsonaro à invasão da Rússia à Ucrânia.

“O presidente nunca chancelou a invasão. A posição diplomática do Itamaraty foi clara. Só que nós dependemos do fertilizante russo, o agronegócio brasileiro não anda sem o fertilizante russo”, disse Ramos.

O ministro viajará a Portugal entre 4 e 9 de julho, onde se reunirá com políticos e empresários e abordará, entre outros assuntos, os preparativos para o bicentenário, quando o Brasil receberá emprestado o coração do Imperador Pedro I.


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