06/11/2024 - 18:31
Olaf Scholz demite o ministro das Finanças, o liberal Christian Lindner – figura-chave da coalizão que sustentava o governo. Em mensagem dura, Scholz acusou ex-aliado de egoísmo e disse que não havia mais confiançaA tríplice coalizão partidária que governa a Alemanha começou a desmoronar na noite desta quarta-feira (06/11), após o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, do Partido Social Democrata (SPD), exonerar o ministro das Finanças, Christian Lindner, que também é presidente do Partido Liberal Democrático (FDP).
O anúncio foi feito após uma reunião entre Scholz, Lindner e o ministro da Economia, Robert Habeck, do Partido Verde. As três legendas formam a coalizão que sustenta o governo alemão, e vêm há meses enfrentando dificuldades para encontrar consenso em relação a propostas de reformas.
Num pronunciamento na televisão convocado em cima da hora na noite desta quarta, Scholz explicou as razões da demissão e dirigiu palavras duras ao ex-ministro.
"Precisamos de um governo que possa agir", disse Scholz, que acrescentou que estava farto com o comportamento intransigente que o liberal Lindner vinha apresentando contra os planos do governo que previam mais gastos. "Não posso mais esperar que o país tolere tal comportamento. Caros cidadãos, eu teria preferido poupá-los dessa decisão", disse Scholz.
"O ministro Lindner quebrou minha confiança com muita frequência. Não há base para confiança", afirmou o chanceler federal. "Ele só está preocupado com a sobrevivência de curto prazo de seu próprio partido. Tal egoísmo é incompreensível."
Após a saída de Lindner, a expectativa é se os outros três ministros do FDP – que comandam as pastas da Justiça, Transporte e Digitalização, e Educação e Pesquisa – também deixarão o governo.
Sem o FDP, porém, o governo alemão não terá maioria no Parlamento. Nesse caso, seria possível convocar novas eleições para reequilibrar a correlação de forças no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento, e nomear um novo chanceler federal. Ou Scholz poderia seguir no cargo fazendo um governo de minoria.
Segundo relatos da imprensa alemã, na reunião desta quarta-feira, Lindner propôs a Scholz a antecipação das eleições nacionais para janeiro de 2025.
O chanceler federal rechaçou a ideia de antecipar o pleito, agendado para setembro de 2025, mas anunciou nesta quarta-feira que pedirá ao Parlamento que organize um voto de confiança sobre seu governo, no dia 15 de janeiro de 2025, algo que pode abrir a porta para eleições antecipadas em março. Ele disse ter concordado com Habeck de que a Alemanha precisa de clareza rapidamente sobre seu futuro político.
Scholz afirmou ainda que pretende colocar em votação no Bundestag antes do Natal projetos de lei que considera relevantes, incluindo sobre o sistema de aposentadorias e para apoio às indústrias.
Após o pronunciamento de Scholz, o agora ex-ministro Lindner disse que o chanceler havia tentado forçá-lo a suspender o chamado "freio da dívida" do país, um mecanismo semelhante a um "teto de gastos" inscrito na Lei Básica (a Constituição Alemã) que limita severamente a capacidade de endividamento do país.
"Olaf Scholz se recusa a reconhecer que nosso país precisa de um novo modelo econômico”, disse ele a repórteres. "Olaf Scholz mostrou que não tem força para dar um novo impulso ao país. Em vez disso, esta tarde o chanceler me deu um ultimato para suspender o freio constitucional da dívida. Eu não podia fazer isso porque estaria quebrando meu juramento de posse”, disse Lindner.
Crise prolongada
A coalizão que governa a Alemanha, conhecida como semáforo devido às cores dos partidos que a integram, não consegue chegar a um acordo sobre como cobrir um buraco do Orçamento de 2025 e sobre políticas públicas cruciais para revigorar a economia.
O atual governo nunca foi tão impopular: tem 14% de aprovação, cinco pontos percentuais a menos que no início de outubro. Os que desaprovam ou estão pouco satisfeitos com o governo somam 85%, sendo que a desaprovação sozinha aumentou oito pontos percentuais em relação à última pesquisa.
No início de novembro, pela primeira vez desde a ascensão de Scholz ao posto, uma maioria de 54% dos eleitores afirma querer antecipar as eleições para o Parlamento. O índice de aprovação do próprio Scholz é de 19% – igual ao de Lindner e muito próximo de Habeck, que caiu oito pontos percentuais e foi a 20%.
A perspectiva é sombria para os três partidos, mas para o FDP é uma questão de sobrevivência. O partido liberal oscila entre 3% e 5% nas sondagens, o que significa que corre o risco de ficar de fora do Parlamento, já que 5% dos votos é o mínimo necessário para obter representação parlamentar na Alemanha.
bl/jps (ots)