03/12/2021 - 13:37
Autoridades de saúde admitem atraso na adoção de medidas anticovid mais severas e expressam preocupação em relação às festas de fim de ano. “Se todos os adultos estivessem vacinados, não estaríamos nesta situação.”A quarta onda de coronavírus na Alemanha deve atingir seu auge desolador por volta do Natal, segundo previsão conjunta do ministro da Saúde do país, Jens Spahn, e do chefe do Instituto Robert Koch (RKI), Lothar Wieler.
Em coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira (03/12), Spahn e Wieler afirmaram que as perspectivas são ruins e admitiram que as medidas restritivas foram determinadas com atraso, mas que agora seria importante implementá-las consequentemente e monitorá-las para controlar a quarta onda de covid-19.
Spahn expressou preocupação em relação às festividades de fim de ano. Mesmo que as mais recentes medidas anticovid tenham um efeito imediato e o número de infecções possa ser gradualmente reduzido, a situação nas unidades de terapia intensiva dos hospitais vai “atingir seu triste clímax por volta do Natal”.
Na coletiva, Spahn e Wieler voltaram a pedir aos cidadãos que se vacinem contra a covid-19. O ministro comunicou que cerca de 925.800 pessoas – pouco mais de 1% da população alemã – são consideradas ativamente infectadas com o coronavírus. Atualmente, cerca de 4.800 pacientes com covid-19 estão em unidades de terapia intensiva.
Spahn apontou que o percentual de cidadãos não vacinados infectados e gravemente doentes é muito maior do que a mesma parcela na população geral – uma desproporcionalidade que serve de indicativo para a eficácia das vacinas em evitar desenvolvimentos mais graves da doença.
“A incidência entre não vacinados é maior em todas as faixas etárias em comparação com os vacinados”, disse Spahn na entrevista coletiva. “Se todos os adultos alemães estivessem vacinados, não estaríamos nesta situação difícil.” O ministro garantiu que há na Alemanha doses suficientes para 30 milhões de aplicações até o final do ano.
A dupla – que rotineiramente informa a imprensa sobre a situação pandêmica da Alemanha nas sextas-feiras – conversou com os jornalistas no dia seguinte ao anúncio da implementação de novas restrições anticovid.
Medidas mais severas foram acordadas pelos governo estaduais e federal e visam especialmente as pessoas não vacinadas – as novas regras impedem-nas de entrar em lojas, restaurantes e em eventos esportivos e culturais.
Vacinação obrigatória
Spahn reiterou sua posição contrária à vacinação obrigatória – um tema que tem ganhado força nas últimas semanas na Alemanha. Ele deverá deixar o cargo de ministro da Saúde na próxima semana, quando o novo governo de centro-esquerda tomar posse.
A nova coalizão de governo, por outro lado, planeja apresentar um projeto de lei que mira a vacinação compulsória contra covid-19 no país. Os legisladores devem debater e votar sobre a questão até o início de janeiro. Spahn, que também é membro do Parlamento alemão desde 2002, deixou claro que votaria contra a medida.
O chefe do RKI, agência federal de prevenção e controle de doenças do país, também defendeu uma abordagem cautelosa em relação à vacinação obrigatória. Segundo Wieler, o tema deve ser “comunicado e considerado com muito, muito cuidado”.
Há uma série de dúvidas sobre a partir de qual idade a vacinação obrigatória pode ser aplicada e como se lidará com o fato de que as vacinas não oferecem proteção completa a longo prazo e, eventualmente, necessitam de doses adicionais.
“Isso realmente não é tão trivial”, disse Wieler, acrescentando ser necessária uma discussão “bem fundamentada” e, posteriormente, “uma decisão realmente bem informada no Parlamento alemão”.
Cerca de 68,8% dos cidadãos da Alemanha estão totalmente imunizados – abaixo da meta mínima de 75% estabelecida pelo governo alemão. Na quarta-feira, no entanto, pela primeira vez desde metade do ano mais de um milhão de doses foram administradas num único dia.
Pandemia em alta na Alemanha
A Alemanha registrou 74.352 novos casos de infecção e 390 mortes relacionadas à covid-19 nas últimas 24 horas, segundo dados divulgados pelo RKI. Nas últimas semanas, o país chegou a bater recordes de casos diários em toda a pandemia.
O chefe do RKI classificou a situação atual como dramática. Embora alguns índices tenham estagnado ou até recuado nos últimos dias, Wieler afirmou que ainda é muito cedo para falar de uma tendência de reversão da situação.
Em algumas regiões, medidas mais severas realmente tiveram impacto. Em outras, no entanto, a queda nos números se deve ao esgotamento das capacidades de registro dos casos – laboratórios e autoridades sanitárias não conseguem acompanhar o volume de testes e relatórios, segundo Wieler.
pv/ek (AP, ots)