A ministra Damares Alves tem uma estranha fixação por princesas. Já criticou a personagem Frozen, da Disney, dizendo que era “uma princesa lésbica”, e revelou que sonhava com a chegada de um príncipe, no cavalo branco, com os cabelos loiros ao vento. No início de fevereiro, postou em uma rede social a foto da primeira-dama Michelle Bolsonaro vestida de Branca de Neve, e publicou um vídeo em que parece estar em êxtase: “nós estamos princesando as meninas! Uau! Bolsonaro, o lobo mau dos comunistas, Michelle, o terror das bruxas!” Não era exatamente o timing adequado para a ministra dos Direitos Humanos comemorar: uma semana antes, o refugiado congolês Moise Kabagambe havia sido brutalmente assassinado em um quiosque no Rio de Janeiro. Sobre o caso, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos demorou mais de uma semana para se manifestar — e apenas reclamou que estava sendo cobrada demais.

A bizarra obsessão de Damares por princesas combina com sua falta de compreensão do mundo real. O contraste entre a postura alienada e o descaso com um dos casos mais gritantes contra os Direitos Humanos na história do País evidencia a função de seu ministério no governo federal. Em vez de trabalhar para todos os brasileiros, Damares atua como uma espécie de guardiã do relativismo bolsonarista: os direitos humanos valem, mas somente para os humanos da extrema direita.

Os mortos por Covid já passam de 630 mil, mas nenhum parente dessas vítimas teve a honra de receber um único representante do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Em 20 de janeiro, no entanto, uma viagem às pressas em voo oficial levou Damares a Botucatu, no interior paulista: ela e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, não foram acompanhar o combate à pandemia na cidade, mas visitar uma menina que havia sofrido parada cardíaca no mesmo dia em que havia tomado a vacina contra a Covid. Para decepção dos ministros, a reação não tinha relação com o imunizante.

Contra as minorias

A subserviência de Damares a Bolsonaro já coloca seu nome como eventual candidata a vice em uma chapa à reeleição e até a uma vaga no STF. Um bom exemplo do seu alinhamento com o presidente é a postura em relação à vacinação infantil. A Comissão de Direitos Humanos do Senado aprovou na segunda-feira, 7, o requerimento para convocar Damares e Queiroga a prestar esclarecimento sobre o tema: em nota oficial, ela colocou em dúvida a eficácia das vacinas. O comunicado critica ainda o passaporte vacinal, alegando que sua exigência pode causar “discriminação” em quem recusa a se vacinar. Em outra decisão às avessas, a pasta incentiva o uso do Disque 100, tradicional canal de denúncias contra queixas de violação de direitos humanos, para que negacionistas antivacina possam relatar casos em que foram constrangidos. A postura do governo motivou professores e profissionais da saúde a denunciar o governo federal ao STF, alegando perseguição política e “caça as bruxas” contra quem realiza a vacinação infantil. “Conceitos de direitos humanos vêm sendo subvertidos de forma a permitir a execução de uma política de vigilância, perseguição, discriminação e repressão”, diz a ação da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e Saúde (CNTS).

“A situação do Brasil já ultrapassou o nível do absurdo”, afirma a advogada Luanda Pires, especialista em Direitos Humanos e Diretora de Relações Públicas da organização não-governamental Me Too Brasil. “Damares Alves é uma pessoa extremamente conservadora que impõe sua visão pessoal de mundo. A ação da pasta é excludente e discriminatória.” Luanda afirma ainda que a atuação durante a pandemia deixou claro que trata-se de um governo negacionista. “Eles aproveitam casos isolados para tentar fortalecer os argumentos contra a ciência e as minorias. É uma turma que atua contra a saúde pública, isso não é razoável. As pessoas que não fazem do perfil escolhido por eles são reiteradamente desumanizadas.” Kiko Afonso, diretor da ONG Ação da Cidadania, afirma que, do ponto de vista técnico, o ministério produziu muito pouco. “É um governo conservador que nega a diversidade da sociedade brasileira”, afirmou. À frente de uma pasta tão importante para os brasileiros, seria bom se Damares deixasse o conto de fadas e voltasse ao mundo real.

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As bobagens de Damares

“A mulher nasceu para ser mãe”

“Sonhei que meu príncipe vinha no cavalo branco, cabelos loiros ao vento. Mas meu marido chegou sem cavalo e careca”

“A gravidez é um problema que só dura nove meses. O aborto caminha a vida inteira com a mulher”

“Por que a princesa de Frozen termina sozinha no final? Porque ela é lésbica. Vai voltar e acordar a Bela Adormecida com um beijo gay”

“É uma nova era: menino veste azul, menina veste rosa”