Depois de três anos sofrendo assédio sexual, a funcionária administrativa concursada de uma prefeitura paulista decidiu, no ano passado, denunciar o abusador à polícia. O homem só foi afastado em julho deste ano, mas ela não sabe se em razão de sua denúncia ou por outras irregularidades. “Até agora, ninguém me procurou para dar uma satisfação.”

Maria (nome fictício), tem 51 anos e uma filha adolescente. Ela conta que trabalha na repartição pública há dez anos, mas o assédio começou entre 2013 e 2014. “No início era de forma sutil, ele me elogiava, mas depois começou a me convidar para sair. Eu desconversava, mas ele insistia. Foi quando ele começou a me mandar mensagens, dizendo que eu era isso e aquilo e tinha de ser dele, que ele era o meu homem.”

Desgaste

A mulher conta que isso destruiu seu casamento. “Ele me mandava mensagens e fotos pornográficas, insistindo para que saísse com ele. Foi ficando algo doentio, pois ele passava de carro na frente da minha casa e me perseguia. Eu pensei em denunciar à polícia, mas fui desaconselhada por colegas, pois ele ocupava um cargo importante. Só que meu marido viu as mensagens e fotos. Houve desgaste e nos separamos.”

Quando o abusador agarrou outra funcionária no refeitório e ela o denunciou, Maria também criou coragem. Em julho do ano passado, ela procurou a polícia e fez um boletim de ocorrência. “Eu estava com medo que ele me atacasse. Fui ouvida e contei tudo. Só então a prefeitura abriu uma sindicância e fui ouvida pelo secretário. Em julho deste ano, ele (o abusador) acabou afastado da prefeitura, com outros funcionários do departamento, mas não sei se a razão foi minha denúncia.”

Além de negar as acusações, o denunciado pelo assédio entrou com ação na Justiça contra Maria. “Ele está pedindo uma indenização de R$ 10 mil. Depois de tudo o que me fez, ele diz que estou mentindo e ainda quer que eu pague para ele”, disse. Uma audiência está marcada para o dia 30 de outubro.

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Maria diz que sua vida “virou do avesso” em razão do assédio. “Estou em tratamento psicológico”, diz ela, que recebe assistência do projeto Mulher Sem Medo, organização social que atua no combate à violência contra a mulher.

De acordo com o diretor jurídico Fabrício Grellet, “esse é um caso gritante de abuso do próprio poder público e de acobertamento de possíveis ações criminosas”. Tomamos o caso como emblemático para atuação da entidade.”

Mobilização

O assédio sexual enquanto crime e infração administrativa começou a ser mais debatido na esfera pública brasileira nos últimos dois anos, com a criação de cursos, campanhas e canais de atendimento a vítimas, trazendo à tona casos que antes não costumavam ser denunciados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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