Eu tinha apenas 18 anos quando descobri que tinha HIV. Naquela época, três palavras de um médico mudaram minha vida para sempre: “você tem AIDS.”

Aconteceu apenas alguns dias antes do meu 18º aniversário. Eu estava matriculada em um programa educacional financiado pelo governo na época. Era um recomeço para mim: depois de ter sido abusado sexualmente por um membro da família, fugir de casa aos 13 anos e me juntar a uma gangue violenta, esse foi meu novo capítulo.

Eu tinha planos de ir a Miami para visitar minha família no meu aniversário e, antes de fazer isso, tive que ser aprovada por um médico do local. Esse era o protocolo padrão do programa, para garantir que os alunos eram saudáveis antes de deixar o campus.

Eu já tinha visto o médico uma vez antes, quando deram testes físicos e de DST a todos os novos alunos. Algumas semanas antes da minha segunda consulta, recebi alguns recados dos funcionários dizendo que o médico queria me ver. Contudo, os ignorei e evitei a clínica o máximo que pude.

Quando cheguei lá, o médico me perguntou num tom bravo onde eu estava. Foi aí que percebi que havia algo de errado. “Eu tenho câncer de pulmão?”, perguntei, já que eu fumava cigarro. Foi quando ele me disse: “Você tem AIDS.”

Fiquei imediatamente com o corpo dormente. Pensei que nunca iria me casar, ter uma carreira ou me tornar mãe.

Isso aconteceu em 1991, e o HIV/AIDS ainda era um diagnóstico bem novo. Hoje sei que não tive AIDS, mas sim que era soropositiva. Posso não ter certeza, mas acho que meu médico não sabia a diferença, já que ainda havia muita dúvida em torno do vírus.

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Eu também não tinha certeza de como tinha contraído o HIV, mas isso não importava para mim. Estava muito assustada, porque tinha recebido o diagnóstico de algo que não sabia quase nada sobre. Eu achava que era uma doença que apenas homens gays podiam ter e que era uma sentença de morte quase instantânea. E, infelizmente, meu médico também não sabia explicar para mim.

Eu não fazia ideia de que o HIV é um vírus disseminado através de fluidos corporais nem que, se não for tratado, pode progredir para a AIDS. Também não sabia que ele atacava o sistema imunológico, nem sobre minhas opções (limitadas) de tratamento.

O apoio da minha mãe foi fundamental

Um funcionário do programa educacional disse que eu poderia ficar no programa se quisesse, o que me deixou mais tranquila. Mas, ainda assim, sabia que precisava ir para casa, porque achava que ia morrer.

Foi quando liguei para minha mãe. Assim que ela atendeu , eu disse: “Mãe, eu tenho AIDS”. Falei que eu estava morrendo, porque eu realmente achava que estava. Não conseguia parar de chorar, mas ela tentou me dar qualquer sinal de conforto que pudesse, mesmo há mil milhas de distância. “Não se preocupe, hija”, disse ela. “Não se preocupe. Venha para casa.”

Depois que desligamos, minha mãe me deu uma passagem de avião e, dois dias depois, me buscou no aeroporto. Quando chegamos em casa, ela me sentou e disse: “Eu acredito que você não vá morrer com isso”. Ela tinha muita fé, e embora o vírus não tivesse cura, ela continuou orando por mim.

Minha mãe queria me consolar, mas também queria me proteger. “Você não pode dizer às pessoas”, ela dizia. “Eles vão julgar você.” Ela estava certa. Havia (e ainda existe) um estigma em torno do HIV / AIDS.

Ela não queria que as pessoas da família e conhecidos achassem que eu era uma pessoa “má” ou “suja”, mesmo que nós duas soubéssemos que isso não era verdade.

Minha mãe me levou a um médico em Miami, que me ofereceu um medicamento que poderia diminuir a progressão do vírus. Ele disse que era a única medicação disponível, mas que eu precisava assinar um documento antes, concordando que eu estava ciente de que poderia danificar meus órgãos. Eu decidi não assiná-lo, porque não pareceu valer a pena na época. Então, optei por ficar sem tratamento. Isso, é claro, preocupou minha mãe, mas ainda assim ela me apoiou.

Logo depois, voltamos para a Colômbia, onde nasci e cresci. Não havia acesso ao tratamento lá, então fiz o meu melhor para me manter saudável, com uma boa dieta e exercícios. Minha mãe se certificou de que eu estava bem alimentada e cuidando de mim mesma. Enquanto isso, nós duas estávamos cuidando dos meus avós.

“Meu médico me disse que se eu não começasse a tomar medicação, eu viveria apenas mais um mês ou mais.”

Quando comecei a ter os primeiros sintomas

Eu não tive nenhum sintoma físico até 2000 – nove anos depois do meu diagnóstico. A partir daí, comecei a me sentir exausta o tempo todo. Eu ficava enjoada e tinha muita diarréia. Me senti como uma vela que estava queimando. Sabia que precisava de medicação e que encontraria tratamentos melhores nos Estados Unidos. Foi extremamente difícil.

Eu sabia que precisava de medicação e que haveria tratamentos melhores nos Estados Unidos. Foi extremamente difícil, mas deixei a Colômbia e minha mãe e voltei para Miami.

Lá fui direto a outro médico. Ele confirmou que meu HIV tinha progredido para a AIDS e que precisava de um tratamento o quanto antes. Caso contrário, teria apenas mais um mês de vida. Eu concordei e, novamente, liguei para minha mãe. Consegui ouvir seu alívio pelo telefone. Ela me disse que estava orando para que eu aceitasse a idéia de usar medicação.

Comecei um tratamento oral imediatamente. Desta vez, não precisei assinar nenhum documento. Embora a medicação não fosse livre de efeitos colaterais, era muito menos arriscada do que antes. Em apenas seis semanas, minha condição melhorou muito.

O momento em que tudo mudou

Fui a primeira pessoa soropositiva a aparecer publicamente na Colômbia. Desde então, tenho a missão de ajudar pessoas HIV positivas em todo o mundo a ter informações, tratamento e apoio necessários.

Comecei a compartilhar minha experiência em um blog e depois comecei a trabalhar como embaixadora global do The Well Project – uma ONG que ajuda mulheres e meninas soropositivas do mundo inteiro a ter as informações de que precisam.

Minha mãe, que antes tinha medo de contar à família sobre meu diagnóstico, estava animada por eu ter ido a público falar sobre o vírus.

Ainda assim, ela estava muito preocupada com o estigma associado ao HIV / AIDS. Mas eu disse a ela que sentia que essa era minha missão na vida. “Isso é maior que eu. Posso salvar vidas”, disse a ela. Assim, quanto mais eu compartilhava com o público, mais minha mãe começava a entender porque eu me sentia tão bem em compartilhar minha história.

Minha mãe ainda mora na Colômbia e eu a vejo duas vezes por ano. Nós conversamos o tempo todo, e eu sei o quanto ela está orgulhosa dos meus 20 anos de ativismo na comunidade soropositiva.

“Minha vida mudou aos 18 anos, quando descobri que tinha HIV”
Foto Reprodução

Fui a primeira mulher soropositiva a se apresentar publicamente na Colômbia, e recentemente fui entrevistada para uma revista com minha mãe sentada ao meu lado, segurando minha mão – algo que era difícil para ela. Mas, como minha melhor amiga, ela estava lá para me apoiar e apoiar todas as pessoas que têm AIDS.

Quando ouvi meu diagnóstico pela primeira vez, achei que amor, felicidade e uma carreira não seriam mais possíveis para mim. Agora, aos 45 anos, sei que naquela época eu não poderia estar mais errada. Tive ótimos relacionamentos amorosos e estou usando minha voz para ajudar pessoas do mundo todo.

Não é fácil ser soropositivo, mas sei que quando preciso de força, posso me apoiar em meus mentores, amigos, família – e, claro, minha mãe.