O furacão Elke Maravilha chamava a construção de seus looks de “escavação arqueológica”. Qualquer referência era válida para ela, que foi modelo, apresentadora, cantora… Enfim, artista e transgressora. Acabou presa pela ditadura em 1972. Anos antes, em 1969, quando chegou ao Rio, apanhou de um grupo de homens em Ipanema por causa de seu visual diferente.

Elke foi única. À la David Bowie, escolheu seguir seu próprio caminho estético, fundamentado em pluralismo e extravagância. Moda para Elke era vida e não passarela. Quando modelo, até desfilou para os maiores estilistas brasileiros das décadas de 1970 e 1989, Clodovil, Guilherme Guimarães e Zuzu Angel. Mas a seu modo, sem se enquadrar em padrões de perfeição. Seguiu nessa trilha até o fim – no ano passado, por exemplo, estrelou a campanha de inverno do jovem designer Lucas Magalhães. “Algumas pessoas acham que eu me fantasio. E eu digo que não. Eu sou assim! Fantasia é quando você veste algo que você não é”, falou Elke à reportagem na época.

Ela mesma construía suas roupas e perucas de dreads. Os looks eram confeccionado e bordados em casa, com a ajuda de uma costureira, pensados por Elke e baseados em tudo o que fizesse sentido para ela (“Gosto de me inspirar na cultura africana antiga, misturo com Rússia, vikings, Egito, misturo com tudo e resulta em algo moderno”). A mulher que fez do próprio corpo a expressão de quem era de verdade subverteu raças e gêneros muito antes disso virar moda. E deixa um legado de pioneirismo, coragem e liberdade.