23/02/2022 - 14:55
Por Tatiana Bautzer e Marta Nogueira
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) – Uma diferença significativa entre as propostas de reestruturação da mineradora Samarco e de seus credores deve criar um impasse nas assembleias que começam nesta quarta-feira para votar a proposta e encerrar a recuperação judicial da empresa.
Credores da joint venture entre a Vale e BHP Group devem votar a proposta de reestruturação feita pela empresa em assembleia. Se a reunião desta quarta-feira não tiver quorum, uma reunião em segunda chamada ocorrerá no dia 10 de março, um dia antes do prazo atual para encerramento da recuperação judicial.
Por enquanto, as propostas da Samarco e dos credores ainda são muito diferentes para a reestruturação de cerca de 5 bilhões de dólares em dívida financeira.
Os credores demandaram pagamento de 100% da dívida, incluindo juros por atraso, com troca por novos bônus garantidos pelos acionistas Vale e BHP, segundo documentos da recuperação judicial.
A Samarco propõe um desconto de 75% na dívida dos detentores de bônus, com o pagamento em títulos com vencimento em 2041. Outra alternativa seria a conversão dos créditos em participação acionária, com os credores atingindo um pouco mais de 15% da empresa.
Assessores dos detentores de bônus dizem que seus clientes vão rejeitar a proposta da empresa. Na terça-feira, o grupo de credores Ad Hoc propôs a indicação do ex-diretor da Vale e ex-presidente-executivo da Nexa, Tito Martins, para a presidência do conselho da Samarco.
“A chegada de Tito Martins é um passo fundamental para a construção da Nova Samarco –uma empresa independente que voltará a crescer, a criar empregos e a gerar prosperidade para os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo e para o Brasil, sempre atenta à sua responsabilidade socioambiental”, afirmou o grupo num comunicado.
Simon Duncombe, vice-presidente para joint ventures não operadas no Brasil da BHP, disse que a proposta dos credores não muda a situação da Samarco.
“O problema da empresa não é de administração”, afirmou o executivo em videoconferência com a Reuters, reconhecendo que os credores devem pedir a indicação de executivos.
No início do mês, a Samarco e a Vale assinaram um acordo de produção com prazo de 20 anos que deve adicionar 5,1 bilhões de dólares em receita até 2042 e adiantar as metas de produção de minério de ferro.
Se os credores rejeitarem a atual proposta da Samarco, a lei permite a proposta de planos de recuperação alternativos. Se isso ocorrer, Duncombe disse que Vale e a BHP devem pedir o direito de voto na assembléia de credores.
Entre os credores financeiros da Samarco estão os gestores York, Ashmore, Canyon, Maple Rock e Solus. Os grupos de detentores de bônus são representados pelos escritórios de advocacia Padis Mattar Advogados, Ferro, Castro Neves (FCDG) e Davis Polk. O banco de investimentos Houlihan Lokey também assessora os credores internacionais.
A Samarco é representada nas negociações pelo JPMorgan, a Vale pelo Moelis & Co, e a BHP Plc pelo Rothschild & Co.
Em paralelo, a Samarco está em negociação desde o ano passado com autoridades federais e estaduais para fechar um acordo definitivo para compensações e reparações pelo rompimento de barragem em Mariana.
O Ministério Público de Minas Gerais tem a expectativa de concluir a revisão dos programas já em curso e iniciar as discussões sobre valores em março.