A saudade dos palcos foi amenizada para Milton Nascimento com a gravação de show realizado com sua banda e a Orquestra Ouro Preto. E o público poderá conferir esse trabalho nesta quarta, 29, às 20h30, gratuitamente, no YouTube da orquestra.

“Foram quase vinte meses sem pisar num palco. E eu quase não acreditei quando meu filho, Augusto, que foi quem dirigiu esse show, me falou da ideia de gravarmos com a Orquestra Ouro Preto”, conta Milton ao Estadão. “Depois de tanto tempo, foi muito bom cantar novamente no Theatro Central de Juiz de Fora, mas a presença do público ainda é insubstituível.”

Para este show, o tema não poderia ser outro senão os 50 anos do álbum Clube da Esquina, lançado em 1972, um marco na história da música brasileira. “O Clube da Esquina começou através da nossa amizade”, conta o cantor mineiro de 79 anos. “Até hoje é assim, e se não fosse por isso não teria Clube da Esquina. Lô Borges, Márcio Borges, Ronaldo Bastos e Beto Guedes seguem na minha vida até hoje. Inclusive, há alguns meses o Beto passou a ser representado pela Nascimento Música”, afirma.

Voltar a brindar o público com o repertório do disco, segundo lembra Milton, teve início antes da pandemia. “A gente já tinha viajado praticamente o Brasil inteiro com a turnê Clube da Esquina. Ainda em 2019, também levamos esse show para nove países”, conta ele, que destaca essa apresentação online. “Por conta de tantas histórias que envolvem tanto o disco quanto a turnê, vai ser muito bom a gente ver o repertório do Clube acessível para todos com essa transmissão.”

E, sobre estar no palco ao lado da Orquestra Ouro Preto, Milton destaca não somente o grupo como referência no cenário musical, mas vê a importância da sua conexão com a sociedade através de projetos sociais e educacionais, como o Núcleo de Apoio a Bandas e a Academia Orquestra Ouro Preto. “Se fosse apenas pela atuação social, o trabalho realizado pela Orquestra Ouro Preto já seria um dos mais importantes projetos musicais em atividade hoje no Brasil. Digo isso porque eles não estão formando apenas jovens músicos, mas também novos públicos através de grandes concertos”, enfatiza o cantor e compositor mineiro.

A orquestra e o músico

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Segundo o maestro Rodrigo Toffolo, que rege o concerto, a presença de Milton Nascimento é um momento de realização. “Crescemos ouvindo Milton. Tornamo-nos músicos inspirados por Milton. Sua obra é a Minas Gerias mais profunda é o Brasil mais autêntico. Sua voz um instrumento perfeito, une o belo e o expressivo. Sua discografia, a qual tenho toda aqui em casa, sempre foi o refúgio nas diversas horas. Clube da Esquina são dois álbuns clássicos. Milton sempre à frente de nosso tempo. São discos-referências para toda geração que está aí e que virá.”

A participação do cantor e compositor, como conta o maestro, se deu por uma série de fatores que contribuíram para isso. “A vontade dele de voltar aos palcos, mais de ano afastado, foi um deles”, diz o regente, que alia a isso a “sensibilidade de toda sua equipe, especialmente do Augusto Nascimento (filho de Milton) que sentiu que o momento seria ideal, levando em conta os desejos artísticos e a segurança da pandemia”. Por fim, soma-se a essas observações o fato de o período de preparo e o local de gravação escolhido serem na cidade em que reside atualmente, Juiz de Fora. “Aconteceu na hora certa, no momento certo. E foi lindo. Está lindo!”

Cuidados necessários

Com a pandemia ainda exigindo seguir as regras estipuladas pelo setor de saúde, essa reunião de Milton Nascimentos e os músicos da Orquestra Ouro Preto não poderia ser de outra forma. Como conta o maestro Toffolo “os protocolos foram extremamente rígidos e fizemos RT-PCR diários em toda a equipe para a gravação”. “Absolutamente todos estavam vacinados com as duas doses. Além de máscaras e uso abundante de álcool em gel. Tivemos um cuidado enorme e tudo transcorreu superbem.”

Comemorando o encontro mineiro, Toffolo revela nutrir o sonho de que esse trabalho ganhe a estrada. “Seria incrível poder realizar alguns concertos em 2022.”


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