Forças russas estão dentro da cidade e há relatos de explosões e combates nas ruas. Kremlin tenta controlar bases aéreas próximas da capital. Presidente ucraniano recusa oferta para deixar o país. Militares russos apertaram o cerco a Kiev com ataques aéreos e entraram por terra na capital ucraniana neste sábado (26/02). Eles foram recebido com resistência das forças armadas da Ucrânia e há centenas de feridos e mortos, no terceiro dia da invasão do país pela Rússia ordenada pelo presidente Vladimir Putin.

Na noite de sexta-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, alertou a população que a madrugada de sábado seria “muito difícil” e decisiva para o destino do país. Ele publicou um vídeo em frente ao palácio presidencial para afastar rumores de que teria deixado a Ucrânia.

Ao longo da madrugada, explosões foram registradas por jornalistas e moradores em diversos pontos da capital. Há confrontos no leste, no oeste e no sul de Kiev, segundo múltiplos relatos. Ataques aéreos partiram um edifício residencial ao meio e destruíram pontes e escolas.

A agência ucraniana de notícias Interfax afirmou que militares russos estavam tentando controlar uma das estações geradores de energia de Kiev, que poderia ter o objetivo de cortar o fornecimento de luz à cidade. O acesso à internet na capital enfrenta grave instabilidade, segundo a organização NetBlocks.

Na manhã de sábado, autoridades públicas de Kiev informaram os moradores da cidade que há combates ocorrendo em ruas da capital contra militares russos, e pediu que os moradores permaneçam abrigados, evitem se aproximar de janelas ou varandas e tomem precauções para evitar serem atingidos por destroços ou tiros.

Confrontos e explosões

As forças armadas da Ucrânia afirmaram ter repelido um ataque a uma base militar em Kiev, mas não foi possível confirmar a informação de forma independente.

Também há relatos do governo ucraniano de que militares russos tentaram controlar um trecho da Avenida Peremohy (Vitória), a principal da capital, e foram repelidos. Veículos destruídos e incêndios pontuais foram avistados no local, segundo a BBC.

Testemunhas divulgaram em redes sociais relatos de confrontos na estação de metrô Beresteiska, que fica nessa avenida.

A BBC reportou que houve uma grande explosão próxima à Praça Maidan, símbolo da onda de protestos pró-Europa ocorridos em 2013 e 2014 que derrubaram o então presidente Viktor Ianukovytch, aliado de Moscou. Também foram ouvidas várias explosões em Troieshchyna, onde fica uma usina termoelétrica.

Segundo o jornal Kyiv Independent, mais de 50 explosões e uso de artilharia pesada foram relatados na região do zoológico da capital e no bairro de Shuliavka.

Milhares de moradores de Kiev passaram a noite em abrigos antibomba e estações de metrô. A ONU estima que 100 mil ucranianos já deixaram o país após o início do conflito, e o exôdo poderia chegar a 4 milhões se o confronto escalar.

Disputa por bases aéreas

Forças ucranianas relataram confrontos pesados próximos da base aérea de Vasylkiv, a cerca de 40 quilômetros ao sul de Kiev. O local é estratégico para a Rússia desembarcar paraquedistas.

Uma militar ucraniana relatou à mídia local que soldados ucranianos haviam sido mortos e que a Rússia havia conseguido que muitos de seus paraquedistas chegassem ao solo em segurança. “Temos muitas vítimas, muitos feridos – [cerca de] 200, infelizmente”, afirmou a militar, Natalia Balasinovich.

As forças armadas da Ucrânia afirmaram terem derrubado na noite de sexta-feira um avião de transporte russo Ilyushin IL-76 com paraquedistas a bordo. O chefe militar do país, Valerii Zaluzhnyi, escreveu no Facebook que o avião caiu na região de Vasylkiv, perto de Kyiv, e disse que era uma vingança por um avião com paraquedistas ucranianos abatido no aeroporto de Luhansk em 2014.

Os aviões IL-76 são de grande porte e podem levar até 125 paraquedistas. Os militares russos não comentaram o incidente, confirmado por uma autoridade da inteligência dos Estados Unidos.

Neste sábado, um segundo IL-76 russo foi derrubado próximo a Bila Tserkva, a 85 quilômetros ao sul de Kiev, segundo duas autoridades de inteligência dos Estados Unidos.

A madrugada registrou combates em outras cidades, como Vasylkiv, a cerca de 30 quilômetros ao sul de Kiev, segundo a CNN. A emissora americana também reportou intenso combate na cidade de Kherson, no sul do país, pelo controle de uma ponte estratégica.

Houve também ataques aéreos na noite de sexta-feira próximos às cidades de Sumy e Poltava, no nordeste do país, e em Mariupol, ao sul. Segundo as forças armadas ucranianas, mísseis de cruzeiro Kalibr foram lançados contra o país a partir do Mar Negro.

Possível reunião

Há sinais cada vez mais claros de que Putin deseja derrubar o governo ucraniano.

Zelensky, porém, segue disposto para resistir e disse ter recusado uma oferta dos Estados Unidos para deixar o país. “A luta está aqui. Preciso de armas, não de uma carona”, afirmou ele, segundo um oficial de inteligência dos Estados Unidos.

Representantes da Ucrânia e da Rússia deve entrar em contato nas próximas horas para discutir local e horário para uma reunião para tratar do confronto, afirmou Sergii Nykyforov, porta-voz do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.

O Kremlin havia sugerido uma reunião em Minsk, capital de Belarus, e o governo ucraniano sugeriu Varsóvia, capital da Polônia. A divergência provocou uma “pausa” nos contatos, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

“A Ucrânia estava e permanece pronta para conversar sobre um cessar-fogo e paz”, disse Nykyforov em um post no Facebook.

O porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price, afirmou que a oferta da Rússia por uma reunião era uma tentativa de realizar diplomacia “na mira de uma arma”, e que as forças de Putin precisavam interromper o bombardeio da Ucrânia se a Rússia tivesse uma proposta séria sobre negociações.

A Otan enviou reforços para proteger as nações do Leste Europeu que integram a aliança militar.

bl (AP, AFP, Reuters, ots)