Militares peruanos destroem pistas de pouso usadas pelo tráfico na Amazônia

Militares peruanos destroem pistas de pouso usadas pelo tráfico na Amazônia

Em meio à espessa vegetação e sob o forte calor na floresta central peruana, as Forças Armadas destruíram pistas de pouso usadas por quadrilhas de narcotraficantes para enviar drogas ao exterior.

Helicópteros de artilharia pousaram de surpresa na quinta-feira (31) nos arredores de um povoado na província de Oxapampa, na região central de Pasco, para inutilizar uma pista rudimentar de mil metros de extensão por 15 de largura, construída por moradores por encomenda de traficantes.

Uma equipe da AFP acompanhou a incursão nesta pista, cercada de ervas daninhas e palmeiras, regularmente protegida por grupos armados, com apoio de remanescentes da guerrilha maoísta do Sendero Luminoso, segundo as autoridades.

“Do alto é difícil avistá-la. É preciso voar a baixa altitude para detectá-la”, disse um militar.

Uma vez isolado o lugar, soldados colocaram um poderoso explosivo resultante da mistura de nitrato de amônia e combustível, enquanto outros vigiavam o perímetro para evitar emboscadas.

As explosões deixaram buracos fundos na pista, inutilizando-a. No entanto, os militares viram que algumas pistas anteriormente destruídas foram reabilitadas.

“Os traficantes pagam aos moradores para reabilitá-las”, disse à imprensa o militar “Marcelo”, de pé junto aos explosivos que seriam detonados.

“Com um paciente trabalho de Inteligência, se consegue localizar pistas clandestinas e depois dar as coordenadas para que helicópteros possam chegar”, disse à AFP o general Rubén Castañeda, chefe da base aérea San Ramón, em Junín.

– Troia 2019 –

“Esta é a segunda fase do Plano de Operações Troia 2019, que começou em 28 de outubro com a destruição de pistas na região Huánuco (centro)”, informou Castañeda.

Os trabalhos de quinta-feira se concentraram na destruição de pistas na localidade de Constitución, Pasco, a 480 quilômetros de Lima.

“O que o governo busca com estas operações é neutralizar as ações do narcotráfico com vistas ao Bicentenário [da Independência] do Peru em 2021”, disse o ministro da Defesa, Walter Martos, com capacete de soldado para a operação.

Desde o começo do ano, executa-se o Troia 2019, com participação de militares, de policiais e da Promotoria, no Vale dos Rios Apurímac, Ene e Mantaro (VRAEM) e em outras regiões amazônicas.

O VRAEM é uma área da selva peruana que abrange várias regiões e onde – segundo o governo – estão 24.000 hectares dos 49.000 de plantas de coca ilegal semeadas no país. É considerada a maior zona “cocalera” do Peru.

Entre março e abril, foram destruídas 28 pistas nas regiões de Huánuco e Pasco, informou o Ministério da Defesa.

Na semana passada, Exército e Polícia lançaram uma ofensiva contra o narcotráfico em uma região amazônica fronteiriça com a Colômbia, onde destruíram laboratórios de refino de cocaína.

Em paralelo, o Peru começará a erradicar manualmente, em novembro, a coca semeada de forma ilegal no VRAEM.

– Teco-tecos bolivianos –

O general Max Iglesias explicou que teco-tecos do tipo “Cessna”, que aterrissam em pistas clandestinas para transportar cocaína, costumam ter matrícula boliviana.

“Esta zona vem a ser uma ponte aérea para transportar a droga. Estamos coordenando com a Força Aérea para ser mais eficazes em sua interdição”, afirmou.

O oficial disse que, em cada viagem, as aeronaves tiram 250 quilos de droga. O quilo da cocaína no Peru é avaliado em 1.200 dólares. No exterior, pode chegar a 5.000 dólares.

“Os narcotraficantes contratam pilotos bolivianos, ou colombianos, ousados para burlar os radares”, detalhou Castañeda.

Junto com Colômbia e Bolívia, o Peru um dos maiores produtores mundiais de folha de coca e de cocaína, segundo a ONU.