Integrantes da ala moderada do PT defendem que o governo Lula segure, ao menos por ora, a divulgação do processo administrativo aberto pelo Exército contra Eduardo Pazuello, sob sigilo de 100 anos, no qual o ex-ministro da Saúde foi poupado por seus pares, embora tenha infringido o regulamento disciplinar das Forças Armadas. Em 2021, no Rio, o general participou de ato político ao lado de Bolsonaro enquanto ainda estava na ativa, o que é proibido, mas nenhuma sanção lhe foi aplicada. Esses petistas sublinham que o procedimento demonstra que a Força foi complacente com o general, mas entendem que divulgá-lo agora poderia impulsionar o clima de animosidade. Petistas mais à esquerda desejam que o segredo acabe. O ministro José Múcio tem equilibrado pratos entre cristais.

Desconfiança

Por isso, Múcio e os comandantes das Forças Armadas decidiram ser mais duros nas punições aos militares que participaram dos atos terroristas, como forma de agradar o presidente, que anda furioso com os fardados suspeitos de terem sido coniventes com os invasores. Lula acha que parte deles “abriu” as portas do Planalto para os criminosos.

Punição

Tanto assim que dois oficiais da reserva que participaram dos atos terroristas já foram punidos. O Exército indiciou o coronel Adriano Camargo Testoni, que durante a invasão gravou vídeos xingando integrantes do Alto Comando, enquanto a Marinha demitiu o capitão Vilmar José Fortuna dos serviços temporários prestados ao Ministério da Defesa.

O futuro de Ibaneis

Fátima Meira

Embora emedebistas graúdos ligados a Lula, como Renan Calheiros, defendam publicamente a expulsão de Ibaneis Rocha do MDB, há grupos influentes no partido entendendo que o futuro partidário do governador afastado somente seja decidido após o desenrolar das investigações sobre as omissões que teria cometido durante os atos terroristas. Temem que uma investida precipitada seja suspensa pela Justiça.

Retrato falado

“O mercado não tem coração, não tem sensibilidade, não tem humanismo” (Crédito:Mateus Bonomi)

O presidente Lula anda irritado com os integrantes do chamado “mercado financeiro”. Disse que eles vêem os programas do governo voltados para os mais pobres como “gastos”, enquanto ele vê como investimentos. “O governo tem obrigação de cuidar das pessoas mais necessitadas, e pronto”, disse Lula a jornalistas na quinta-feira, 12. “É preciso parar de utilizar a palavra gasto. O mercado construiu a narrativa de que tudo que não seja pagamento de juros é gasto”, completou.

Lei branda

A punição de parte dos extremistas que depredaram as sedes do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal poderia ser mais dura agora, não fossem os vetos de Bolsonaro à lei que tipifica os crimes contra a democracia, como o de golpe de Estado e o de abolição do Estado Democrático de Direito. No final do seu mandato, Bolsonaro barrou trechos do texto original que ampliavam a pena em um terço ou metade para funcionários públicos e militares, respectivamente, envolvidos em atos antidemocráticos. Os responsáveis por esses crimes, conforme a versão inicial da legislação, ainda perderiam o cargo na administração pública ou na carreira militar.

Queda dos vetos

Embora a lei tenha sido aprovada em 2021, Bolsonaro só a sancionou em setembro do ano passado, mas com os vetos aos itens que agravavam a pena de militares e funcionários públicos. O Congresso pretende derrubar os vetos do ex-presidente em fevereiro, mas os radicais não serão atingidos. Premeditação?

Itamaraty renasce

Com o fim da era bolsonarista à frente do Itamaraty, que destruiu todas as pontes diplomáticas do Brasil, vários renomados embaixadores, que foram marginalizados e perseguidos por Ernesto Araújo, voltarão a ocupar cargos de destaque na gestão de Lula junto ao Ministério das Relações Exteriores, como é o caso do embaixador Antonio Patriota.

Edilson Rodrigues

Embaixadas menores

Ex-chanceler no governo Dilma, Patriota ficou “encostado” em embaixadas sem maior relevância, como a do Egito. O mesmo aconteceu com o embaixador Mauro Vieira, que estava na Croácia, mas agora foi nomeado por Lula como o novo chefe do Itamaraty. Outros diplomatas voltarão a ocupar embaixadas de peso, como Sergio Danese, que estava no Peru.

As fake news de Léo Índio

Divulgação

Sobrinho de Bolsonaro, Léo Índio engajou-se em um perfil nas redes sociais voltado para ataques a Lula e à difusão de mentiras. Entre os assuntos impulsionados, está o documentário “Quem mandou matar Bolsonaro?”. No canal do Telegram, a página “Lula Flix” expõe ainda críticas a ministros do STF. Alexandre de Moraes, para variar, é o principal alvo dos criminosos bolsonaristas.

Toma lá dá cá

Érika Kokay, deputada pelo PT-DF (Crédito:Gustavo Bezerra)

Deputados que insuflaram os atos golpistas merecem perder o mandato?
A cassação é fundamental para o resgate do decoro parlamentar. Esses parlamentares agrediram o próprio Legislativo ao incentivarem uma ruptura democrática.

A discussão sobre o impeachment de Ibaneis Rocha é pertinente?
Claro. Não dá para termos no Palácio do Buriti um homem que, alertado diversas vezes sobre o risco de nomear na Secretaria de Segurança alguém tão entranhado na lógica golpista bolsonarista, pagou para ver.

A sra. é favorável ao endurecimento da lei antiterrorismo?
A lei que tipifica os crimes contra o Estado Democrático de Direito já assegura a punição absolutamente exemplar de todos os entusiastas de um golpe.

Rápidas

* O governador Ratinho Júnior nomeou na segunda-feira, 16, Cleber Mata como o novo secretário de Comunicação do Paraná. O jornalista foi o responsável pela comunicação do governo paulista por décadas, inclusive Doria e Rodrigo, mas assessorou também Alckmin e Serra.

* O pacote de Haddad promete acabar com o déficit fiscal de R$ 231,55 bilhões e ainda gerar um superávit de R$ 11,1 bilhões, mas economistas especializados em contas públicas acham pouco provável que isso aconteça.

* O conselho de ética da Câmara terá bastante trabalho. Vários parlamentares serão denunciados por participação nos atos terroristas. Três já são investigados pela PGR: André Fernandes, Clarissa Tércio e Silvia Waiãpi.

* Os ventos estão mesmo mudando. O físico Ricardo Galvão, o ex-diretor do Inpe que foi demitido por Bolsonaro, foi indicado pela ministra Luciana Santos, da Ciência e Tecnologia, como novo presidente do CNPq.