Um dia após a manifestação pública do comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, o chefe da Aeronáutica, tenente-brigadeiro-do-ar Nivaldo Luiz Rossato, divulgou nesta quarta-feira, 4, em boletim interno no qual afirmou que os militares da ativa e da reserva “devem seguir fielmente a Constituição”. “Sem nos empolgarmos a ponto de colocar nossas convicções pessoais acima daquelas das instituições”. O brigadeiro completou: “Tentar impor nossa vontade ou de outrem é o que menos precisamos nesse momento.”

Para o brigadeiro, o Brasil estava “prestes a viver um dos momentos mais importantes da sua história”, uma referência ao julgamento do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo ele, ontem seriam “testados valores que nos são muito caros, como a democracia e a integridade de nossas instituições”. Ainda segundo ele, os poderes constituídos sabiam “de sua responsabilidade perante a nação e devemos acreditar neles”.

Rossato afirmou que nesses “dias críticos para o País, nosso povo está polarizado, influenciado por diversos fatores. Em seu texto, o comandante da Aeronáutica citou “a velocidade das mídias”. “Num momento como este, os ânimos já acirrados intensificam-se ainda mais com a velocidade das mídias sociais, onde cada cidadão encontra espaço para repercutir a sua opinião, em prol do que julga ser o país merecedor.”

No fim, Rossato disse que os militares serão “sempre um extremo recurso não apenas para a guarda da nossa soberania, como também para mantermos a paz entre irmãos que somos.”

Na terça-feira, 3, Villas Bôas, escreveu no Twitter que repudiava “a impunidade”. “Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?” Até a conclusão desta edição, o comandante da Marinha, almirante de esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira, não se havia manifestado.

Apoio

O pronunciamento dos chefes militares recebeu o apoio de outros oficiais. “A manifestação do Rossato não colidiu com o posicionamento do general Villas Bôas. A farda não abafa o cidadão. E o comandante do Exército só quis mostrar suas discordância com a impunidade”, disse o general da reserva Sebastião Roberto Peternelli Júnior.

O general da reserva Augusto Heleno Ribeiro Pereira afirmou que Villas Bôas disse apenas o que está “escrito na Constituição”. “Ele só colocou isso em nome dele, em face da situação crítica que vivemos, onde o comandante tem necessidade de se dirigir ao seu público interno.”

Heleno considerou as notas do general e do brigadeiro “tranquilas”. “Sem maiores conotações, como quiseram dar. Esse é o problema: existe ainda um ranço, uma prevenção contra os militares. Tem gente que fica ali ainda querendo enxergar ameaça de golpe, de uma intervenção militar. Isso é uma bobagem.”

De acordo com ele, a preocupação de Villa Bôas com a impunidade se deve ao fato de o Exército ser afetado pela impunidade na segurança pública.

“A gente tem direito de participar da vida pública. Nós estudamos pra burro. Ninguém mais legítimo para colocar a posição do Exército do que o comandante. Não pode ter essa ideia de que o militar é uma anta pacífica, omissa e descerebrada.” Heleno esteve na terça-feira no protesto em Brasília contra a concessão do habeas corpus para Lula. “Nós temos o direito de opinar.”

Para ele, é fácil entender porque alguns veem problemas na manifestação de Villa Boâs. “É natural, basta procurar seus registros biográficos. Isso não é de graça. Eu que sou militar e comecei minha vida um ano depois da contrarrevolução, vivi isso a minha vida inteira: é sempre essa prevenção contra o militar.” Para ele, a nota do brigadeiro Rosato teve um tom conciliador e prudente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.