CARTUM, 25 OUT (ANSA) – Militares fiéis ao general Abdel Fattah al-Burhan, que chefia o Conselho Soberano do Sudão, deram um golpe de Estado nesta segunda-feira (25) e prenderam o premiê civil, Abdalla Hamdock, e vários ministros.   

Além disso, o acesso à internet e aos demais tipos de comunicação está sendo interrompido constantemente e uma manifestação contra o golpe foi repreendida com violência por soldados. Há feridos entre os civis, segundo informa a emissora Al-Jazeera.   

Após o golpe, várias estradas foram bloqueadas e a emissora estatal começou a transmitir apenas músicas patrióticas.   

O Sudão vivia em um governo “transitório” desde agosto de 2019, após o autocrata Omar al-Bashir ter sido deposto em abril daquele ano. Desde então, uma coalizão civil-militar estava administrando o país africano com a promessa de que o Sudão teria eleições livres e democráticas para formar um governo completamente civil.   

No entanto, recentemente, o principal bloco político civil, o Força para a Liberdade e Mudança (FFC), se dividiu em duas facções, enfraquecendo o movimento.   

Na última semana, dezenas de milhares de pessoas tinham feito protestos nas ruas de várias cidades para pedir a plena transferência de poder para os civis e para mostrar força contra um outro ato que ficou dias em frente ao palácio presidencial de Cartum pedindo um “governo militar”.   

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Naquele período, Hamdok havia dito que as divisões dentro do governo de transição marcavam o “pior e mais perigoso momento da crise”.   

A Associação de Profissionais Sudaneses, um grupo de sindicatos fundamental na liderança dos protestos de 2019, denunciou o “golpe militar” desta segunda-feira e pediu que os manifestantes “resistam vigorosamente” nas ruas.   

Primeiro discurso – Após o golpe ter sido consumado, com o premiê e os ministros colocados em “prisão domiciliar” em um prédio não identificado, Al-Burhan fez um discurso transmitido pela emissora estatal.   

Nele, o general anunciou a instituição do “estado de emergência nacional”, mas disse que os militares vão manter a promessa de “fazer uma transição para o Estado civil”.   

Anunciando um “governo de pessoas competentes”, Al-Burhan disse que vão ser criadas instituições de Estado, como a Corte Suprema. No entanto, o general não deu prazo para que os militares deixem o poder.   

“O Exército assegurará a passagem democrática até a atribuição de poder a um governo eleito. Estamos dissolvendo o Conselho dos Ministros e do Conselho Soberano”, acrescentou Al-Burhan.   

Reações internacionais – A União Europeia, por meio da coletiva diária de seus porta-vozes, disse que “há muita preocupação” com a situação, pedindo que os civis presos “sejam libertados” e fazendo um apelo para “que com urgência, seja evitada a violência e o derramamento de sangue”.   

Por meio de seu Twitter, o presidente da França, Emmanuel Macron, também se manifestou pela retomada da democracia no país africano.   

“A França condena com veemência a tentativa de golpe de Estado no Sudão. Expresso o nosso apoio ao governo de transição do Sudão e apelo à libertação imediata e ao respeito pela integridade do primeiro-ministro e dos líderes civis”, escreveu o mandatário.   

O enviado norte-americano para o Chifre da África, Jeffrey Feltman, também se manifestou por redes sociais e disse que Washington está “fortemente alarmado” pelo golpe. “Esses anúncios vão contra a declaração constitucional (que regula a transição no país) e as aspirações democráticas do povo sudanês”, postou Feltman.   

A Liga Árabe também “exprime profunda preocupação pelos desenvolvimento da situação no Sudão e pede para que todas as partes respeitem a transição e limitem-se aos preparativos para aplicá-la”.   


Sudão – Terceiro maior país da África, com cerca de 40 milhões de habitantes, o Sudão vive uma nova grave crise política desde a separação do Sudão do Sul, em 2011.   

A nação, que está entre a África Subsaariana e o Oriente Médio, faz fronteira com sete países e é fundamental para o comércio africano, já que é ali que o rio Nilo é formado, além de ter acesso para o Mar Vermelho.   

Segundo estudos do Índice de Percepção da Corrupção, a população coloca a nação como o quarto país mais corrupto do mundo. Além disso, é um dos que têm o menor índice de desenvolvimento humano (IDH) no planeta, com 0,414. (ANSA).   


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