Um grupo de militares anunciou nesta quarta-feira (30) o “fim do atual regime” no Gabão e a prisão domiciliar do presidente Ali Bongo Ondimba, poucas horas após o anúncio da reeleição do mandatário, que estava há 14 anos no poder.

Até o golpe de Estado, o país rico em petróleo da África central era governado há mais de 55 anos pela família Bongo.

Os militares nomearam como líder da “transição” o chefe da Guarda Republicana – uma unidade de elite do Exército -, o general Brice Oligui Nguema. A duração dessa “transição” não foi especificada até o momento.

Durante o dia, muitos habitantes foram às ruas apoiar os militares, enquanto Ali Bongo pediu em um vídeo que seus apoiadores “façam barulho”.

O presidente, que sucedeu ao pai, Omar, em 2009, foi colocado em prisão domiciliar, e estava “ao lado da família e de seus médicos”, anunciaram os militares na televisão estatal.

Um de seus filhos, Noureddin Bongo Valentin, foi detido por “alta traição”.

Também foram detidos funcionários de alto escalão do regime, conselheiros da Presidência e os dois principais líderes do muito influente Partido Democrático Gabonense (PDG).

Em entrevista ao jornal francês “Le Monde”, divulgada durante a tarde, o general Brice Oligui Nguema disse que Bongo, de 64 anos, “foi afastado” e que “goza de todos os seus direitos”.

As reações internacionais ao novo golpe de Estado em um país africano foram rápidas.

A União Africana condenou “com firmeza” o que descreveu como uma tentativa de golpe de Estado. A China pediu “garantias à segurança de Ali Bongo”, enquanto a Rússia expressou sua “profunda preocupação”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, “condena firmemente a tentativa de golpe de Estado em curso” no Gabão, declarou seu porta-voz, Stéphane Dujarric, e pediu a todos os atores “contenção” e “diálogo”.

A França, ex-potência colonial e com interesses nos setores do petróleo e manganês neste país africano, “condenou o golpe militar em curso”.

Já os Estados Unidos disseram estar seguindo de perto a situação, que qualificou de “profundamente preocupante”.

– “Defender a paz” –

Após o anúncio oficial, durante a madrugada, da vitória de Bongo nas eleições de sábado com 64,27% dos votos, 12 militares compareceram à televisão para anunciar a dissolução das instituições do Estado.

Em um comunicado, os militares anunciaram a anulação das eleições e a dissolução de “todas as instituições” do país.

Após advertir que uma “deterioração contínua da coesão social” ameaçava “levar o país ao caos” os militares acrescentaram que decidiram “defender a paz, impondo o fim do atual regime”.

“Estão anuladas as eleições de 26 de agosto e os resultados manipulados”, anunciou um dos militares, que falou em nome do grupo.

“Todas as instituições da República foram dissolvidas: o governo, o Senado, a Assembleia Nacional e o Tribunal Constitucional”, afirma o comunicado.

– Fronteiras fechadas –

Os militares, que alegaram falar em nome de um “Comitê para a Transição e Restauração das Instituições”, anunciaram ainda que as fronteiras do país permanecerão “fechadas até nova ordem”.

Entre os militares que fizeram o anúncio estavam membros da Guarda Republicana (GR), a guarda pretoriana da presidência, cujos integrantes são reconhecidos por suas boinas verdes, além de soldados do Exército oficial e membros da polícia.

Correspondentes da AFP ouviram tiros na capital Libreville durante a leitura do comunicado.

Ali Bongo Ondimba concorreu por um terceiro mandato nas eleições de sábado, que incluíram votações para a presidência, legislativas e municipais.

Segundo os resultados divulgados pelo Centro Gabonense de Eleições (CGE), o principal rival de Bongo, Albert Ondo Ossa, recebeu 30,77% dos votos.

Ondo, de 69 anos, denunciou “fraudes orquestradas pelo grupo de Bongo” duas horas antes do fim do horário de votação e reivindicou a vitória.

A eleição aconteceu sem a presença de observadores internacionais.

Os resultados oficiais da votação foram divulgados de madrugada, em pleno toque de recolher noturno e com o serviço de Internet cortado em todo o país, medidas impostas pelo governo antes do fim da votação de sábado para evitar a divulgação de “notícias falsas” e possíveis “atos de violência”.

Apesar de os militares anunciarem que manteriam o toque de recolher, o acesso à Internet foi restabelecido após a leitura do comunicado.

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