Um homem abriu fogo, nesta segunda-feira (26), contra um centro de recrutamento do Exército russo e feriu um oficial que trabalhava na mobilização de milhares de reservistas para lutar na Ucrânia, uma medida que foi aplicada com alguns “erros” – afirma o Kremlin.

Desde que a mobilização parcial foi anunciada na semana passada, houve casos de idosos, pessoas doentes, ou estudantes, convocados para lutar, apesar de as autoridades terem garantido que essas categorias da população estariam isentas da medida.

Nesta segunda-feira, um tiroteio ocorreu em um posto militar de recrutamento, em Ust-Ilimsk, vários milhares de quilômetros ao norte de Irkutsk, na vasta e pouco povoada região da Sibéria.

O comitê de investigação informou que o suspeito, de 25 anos, foi detido, e a vítima, hospitalizada em estado grave.

“Os médicos estão lutando por sua vida”, relatou o governador regional de Irkutsk, Igor Kobzev.

A mãe do suspeito disse ao veículo da imprensa independente russa ASTRA que seu filho estava “muito triste”, porque seu melhor amigo havia recebido a convocação de mobilização um dia antes.

Desde que essa medida foi anunciada, em 21 de setembro, houve várias manifestações em diferentes regiões russas, a maioria carente, contra a mobilização parcial. Nos últimos dias, o Kremlin foi acusado de tentar mobilizar combatentes principalmente em áreas pobres e isoladas.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, prometeu nesta segunda-feira que os “erros” cometidos serão corrigidos.

O anúncio da mobilização também levou muitos russos a correrem para as fronteiras e aeroportos. Nesse contexto, Dmitri Peskov deu a entender que não se descarta o fechamento das fronteiras para impedir o êxodo de pessoas em idade de ir para o “front”.

“No momento, não há qualquer decisão” sobre essa questão, desconversou.

Anteriormente, o senador russo Sergei Tsekov havia pedido que as fronteiras fossem fechadas para homens entre 18 e 55 anos.

Nos últimos dias, foram registradas chegadas de russos às fronteiras de Geórgia, Finlândia, Cazaquistão e Mongólia. Aqueles que falaram com a AFP admitiram que estavam indo embora para evitar serem chamados para lutar.

– Manifestações –

De acordo com o ONG OVD-Info, mais de 2.300 pessoas foram presas, desde 21 de setembro, em atos de protesto contra a mobilização.

No fim de semana, manifestações e confrontos com a polícia eclodiram na república russa do Daguestão, uma região multiétnica e de maioria muçulmana do Cáucaso. Pelo menos 100 pessoas foram presas no domingo (25) na capital dessa república, Makhachkala, informou OVD-Info. Em alguns vídeos divulgados pela imprensa russa, mulheres foram vistas enfrentando policiais durante o protesto.

“Por que estão levando nossos filhos?”, perguntou uma delas.

Desde que a ofensiva russa contra a Ucrânia começou, uma alta proporção de combatentes russos mortos na linha de frente era do Daguestão, de acordo com anúncios de falecimento publicados on-line e compilados pela mídia independente.

A OVD-Info também relatou 24 prisões em uma ação similar organizada no domingo em Yakutsk, capital da vasta região de Yakutia, na Sibéria.

– Angústia –

Desde o início da operação militar na Ucrânia, ataques com coquetel molotov foram relatados contra delegacias militares em várias regiões russas. O último deles, na madrugada desta segunda-feira, foi contra uma delegacia de polícia militar na região de Volgogrado, à qual teriam tentado atear fogo.

Desde que foi anunciada a mobilização parcial, que em princípio envolverá cerca de 300.000 cidadãos, a realidade do conflito se tornou evidente em muitos lares russos. Até então, as autoridades insistiam em que a ofensiva envolveria apenas soldados profissionais, treinados e equipados.

E o fato de que, por erro, pessoas que em princípio deveriam ter sido isentas terem sido convocadas para se mobilizar apenas aumentou a angústia na população.

No “front” econômico, a Bolsa de Valores de Moscou caiu 10% na manhã desta segunda-feira, atingindo níveis mínimos desde que a ofensiva na Ucrânia começou, em 24 de fevereiro passado.