O Salão Nobre do Palácio do Planalto foi ocupado nesta segunda-feira, 9, por cerca de 80 militantes de movimentos sociais e do PT, em resistência ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. A movimentação no local teve início antes da decisão do presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), de anular o trâmite do processo de impeachment na Casa.

Os manifestantes assistiram à cerimônia de criação de universidades e escolas técnicas, com a presença de Dilma Rousseff, ministros e parlamentares, e, ao fim da solenidade, anunciaram a decisão de continuar no salão, transformado em palanque, com discursos e muitas palavras de ordem. Ainda durante a cerimônia, entretanto, os manifestantes interromperam os discursos do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e da presidente Dilma para comemorar a decisão do presidente em exercício da Câmara, em atendimento a um pedido feito pela Advocacia-Geral da União (AGU). “Uhu, Maranhão”, gritavam em euforia. “O Palácio é nosso. Não vai ter golpe, já tem luta”, bradavam.

Os manifestantes levaram faixas com as inscrições como “Fica, querida”, “Xô, Temer”, “Fora Cunha”, “Acorda, Brasil, é golpe”. Algumas bandeiras foram penduradas nas janelas do palácio. Vestida com uma camiseta vermelha com os dizeres “Dilma, conte comigo”, a enfermeira Edva Aguilar disse que os manifestantes não sairão do Salão Nobre. “Enquanto não pararem essa palhaçada, nós ficaremos acampados aqui”, avisou Edva. “Somos um escudo de proteção da Dilma. Não vamos deixá-la sair. O que está acontecendo no País é pior do que 1964. É o golpe dos togados”.

Depois da solenidade, militantes do PT e do PCdoB e representantes de movimentos sociais tomaram conta do palco reservado às autoridades. “Vamos afastar essas cadeiras e nos instalar aqui. A partir de agora, o Palácio do Planalto está ocupado”, gritou Wellington Bernardo, do Movimento de Luta em Bairros, Vilas e Favelas, do Rio Grande do Norte, também integrante da Central de Movimentos Populares. “Só vamos sair quando essa questão do impeachment for encerrada”, afirmou. Logo depois que Dilma deixou o Salão Nobre, deputados e senadores se uniram aos manifestantes.

“Vamos incendiar esse país em defesa da democracia. Hoje é dia de comemorar, vamos sair mais fortes”, discursou o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), carregado nos braços pelos militantes. Logo apareceu um megafone e os representantes dos movimentos sociais passaram a se revezar em cânticos e discursos. Surgiu também um violão, melhorando a cantoria.

“Vamos transformar esse espaço em resistência, como os quilombolas e nossos ancestrais. Ditadura é um bicho que custa a morrer, liberdade é um sonho que custa a agarrar”, cantou a professora e atriz de teatro de rua Meire Pedroso, de 60 anos, que viajou de São José dos Campos (SP) para Brasília para se unir à mobilização contra o impeachment. Funcionários da Presidência da República também estavam eufóricos com a anulação do processo de afastamento de Dilma. “Acabou, acabou (o impeachment), vocês vão ver”, comemorou um servidor no mezanino do Salão Nobre.

Enquanto um grupo negocia com seguranças permissão para usar os banheiros do segundo andar do palácio, onde fica o Salão Nobre, outros militantes ajudavam os funcionários da limpeza a empilhar as cadeiras usadas para acomodar os convidados da cerimônia da manhã. Os manifestantes dançaram uma ciranda, de mãos dadas, e fizeram um círculo em torno de bandeiras estendidas no chão, de movimentos como Central Única dos Trabalhadores (CUT), União Nacional dos Estudantes (UNE), Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLP), entre outros. “Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga não assanha o formigueiro”, cantavam em coro.