08/04/2018 - 14:40
O ex-presidente Lula passou sua primeira noite preso em Curitiba, mas seus partidários prometeram manter a pressão com uma “vigília permanente” e apostam em uma rápida mudança de jurisprudência que permita soltá-lo.
“Curitiba será o centro da nossa ação política. Só sairemos daqui quando o Lula sair. Essa vigília é permanente”, disse a presidente do Partido dos Trabalhadores, Glesi Hoffmann, diante da multidão de simpatizantes pouco depois de Lula chegar à sede da Polícia Federal (PF) no sábado à noite.
“[Lula] não é um preso comum, é um preso político com grande liderança nacional. É o primeiro preso político depois da reabertura democrática”, acrescentou Hoffmann.
O estudante Christopher Ferreira, de 21 anos, passou a noite no acampamento montado ao lado do cerco policial, equipado com barracas e colchões infláveis. Um cartaz indicava o local onde a imprensa seria atendida.
“Passamos a noite aqui em resistência junto com todos os companheiros que estão prestando solidariedade ao presidente Lula”, explicou Ferreira à AFP na manhã de domingo.
Segundo a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o movimento espera a chegada de dezenas de caravanas de todas as partes do Brasil.
A prisão de Lula se deu em clima de tensão e enfrentamento entre simpatizantes e opositores do ex-presidente.
Enquanto seus adversários lançavam fogos de artifício e estouravam garrafas de espumante para comemorar, os manifestantes a favor de Lula foram dispersados pela polícia com gás lacrimogênio e balas de borracha, a poucos metros de distância.
A origem do incidente foi confusa, segundo jornalistas da AFP no lugar.
A PF afirma que os militantes tentaram invadir sua sede, forçando o portão enquanto Lula aterrissava no heliporto localizado no telhado do edifício, mas os manifestantes afirmam que a agressão partiu da polícia e foi injustificada.
Pelo menos oito pessoas ficaram levemente feridas, informaram os bombeiros.
– Poderia ser solto? –
Na próxima quarta-feira (11), o Supremo Tribunal Federal (STF) poderia incluir em sua agenda um novo debate sobre o assunto-chave: a partir de que momento um condenado pode começar a cumprir sua pena de prisão.
De acordo com a jurisprudência atual, isso é possível a partir de uma decisão em segunda instância, como a feita em janeiro por um tribunal de recursos contra Lula.
O STF negou na semana passada o pedido de habeas corpus da defesa do ex-presidente que evitaria sua prisão. Mas a ministra Rosa Weber, que votou contra Lula, deu a entender que era favorável a uma mudança na jurisprudência atual quando o assunto fosse tratado de maneira geral, e não em um caso específico.
Isso poderia acontecer na próxima quarta-feira se o também ministro do STF Marco Aurélio Mello pedir, como anunciado, a inclusão do tema na agenda de sessões. Ainda que, em um labirinto legal que parece não ter fim, a discussão possa ser adiada, sem data para retomada, se algum dos ministros pedir vista do processo.
“Estou com a consciência tranquila. Pode demorar um pouco, mas vou vencer essa batalha”, disse Lula a seus seguidores em vídeo gravado na sexta-feira e divulgado em sua página no Facebook no domingo.
“Bom final de semana e, se Deus quiser, quem sabe, na semana que vem estaremos juntos”, acrescentou.