20/04/2022 - 4:13
Em um túnel cavado no sul da Faixa de Gaza, combatentes da Jihad Islâmica se preparam para um novo confronto com Israel, que eles temem ser iminente devido ao aumento das tensões nos territórios palestinos.
Nada se vê a olho nu, mas em uma área arborizada, perto de Khan Yunes, sete homens mascarados, em trajes militares e armados com metralhadoras e lançadores de foguetes, entram em um buraco discreto no sopé de uma colina arenosa. É a porta de entrada de um túnel secreto.
Os combatentes das Brigadas Al-Quds, o braço armado da Jihad Islâmica, principal grupo islâmico palestino depois do Hamas, entram um a um por esta estreita abertura que leva ao túnel cujas paredes são cobertas com painéis pré-fabricados.
O túnel possui dutos de ventilação, cabos de telecomunicações e locais para guardar armas. Todos com fornecimento de energia elétrica. A AFP teve acesso a este local numa visita organizada para a imprensa.
As galerias subterrâneas são usadas para “capturar soldados israelenses, repelir incursões terrestres e realizar outras operações”, explica um comandante de brigada, logo após receber um sinal de rádio reportando um “incidente de segurança no leste de Gaza” que acabou sendo um alarme falso.
Em maio de 2021, o exército israelense intensificou os ataques ao que chama de “Metrô de Gaza”, uma rede complexa de galerias subterrâneas que permite que os combatentes circulem fora da vigilância dos drones e ataquem Israel de surpresa.
Para contornar o bloqueio israelense que prevalece sobre Gaza em decorrência da chegada do Hamas ao poder em 2007, os palestinos multiplicaram os túneis próximos à fronteira com o Egito para receber armas e munições deste país vizinho, com o qual fazem fronteira ao sul.
– Futuras batalhas –
Mas o Egito destruiu a maioria desses túneis, enquanto Israel reforçou seu controle ao redor de Gaza, dobrando a barreira que cerca o enclave palestino com um muro de aço subterrâneo para impedir que os túneis entrem em seu território.
Porque um desses túneis pode permitir que facções palestinas armadas se infiltrem em Israel para sequestrar um soldado ou civil e levá-lo a Gaza para usar como moeda de troca para obter a libertação de palestinos detidos em prisões israelenses.
Os túneis são uma “arma estratégica para a resistência”, destaca Abu Hamza, porta-voz das Brigadas Al-Quds, durante a visita dos jornalistas.
“Nos próximos dias e no decorrer das batalhas que virão, vocês ouvirão sobre a capacidade da resistência e das Brigadas Al-Quds de romper esse chamado muro israelense”, acrescentou Hamza, sem mais detalhes.
O movimento ameaçou Israel esta semana, se as tensões persistirem em Jerusalém e na Cisjordânia, o território palestino ocupado por Israel, do qual Gaza está fisicamente separada.
Desde o final de março, após dois ataques mortais na área de Tel Aviv, o exército israelense multiplicou suas operações em Jenin, no norte da Cisjordânia, de onde vieram os dois agressores palestinos.
As operações militares de Israel provocaram tiroteios e causaram a morte de vários combatentes da Jihad Islâmica, um grupo próximo ao Irã, inimigo jurado de Israel.
Após os confrontos de 2021 entre o exército israelense e grupos armados palestinos em Gaza, “os túneis foram restaurados e o estoque de mísseis recuperado”, assegura Hamza, observando o “apoio financeiro ilimitado” do Irã.
“As Brigadas Al-Quds e a resistência têm vários túneis que adentram (em Israel) e que estão ligados a um sistema de drones e mísseis poderosos prontos para serem lançados em todo o território israelense”, aponta uma fonte das Brigadas, que pediu para permanecer anônimo.
A dezenas de metros de uma das saídas do túnel, um grupo de combatentes conversa sob as árvores.
“Recebemos instruções para mobilizar e defender a mesquita de Al-Aqsa e Al-Qods (Jerusalém, em árabe). Os mísseis estão prontos, aguardamos a decisão dos líderes”, diz um dos homens.
Horas depois, um foguete foi lançado de Gaza em direção a Israel, que respondeu com ataques aéreos contra as posições do Hamas, que Israel considera “responsável” por tudo relacionado à segurança em Gaza.
Para iniciar uma ofensiva contra Israel, a Jihad Islâmica precisará, portanto, da aprovação do Hamas. Mas um ano após a última grande ofensiva israelense contra Gaza, este movimento tem pouca vontade de se envolver em uma nova guerra, segundo autoridades dos serviços de segurança israelenses.