Manifestantes criticaram possível racha do "cordão sanitário" que isola a Alternativa para a Alemanha (AfD) no Parlamento e reagiram a falas do candidato a chanceler Friedrich Merz.Dezenas de milhares de pessoas protestaram contra a crescente influência legislativa da ultradireita alemã em frente ao Portão de Brandemburgo, em Berlim, neste sábado (25/01). Outros 60 municípios também registraram manifestações contra o partido Alternativa para a Alemanha (AfD).
A polícia de Berlim estimou a presença de 30.000 pessoas na capital alemã. O protesto acontece um mês antes de os alemães irem às urnas para uma eleição geral na qual se espera que a AfD obtenha um resultado expressivo. O partido tem cerca de 20% das intenções de voto nas pesquisas eleitorais, um recorde para a sigla.
Já a cidade de Colônia, no estado de Renânia do Norte-Vestfália, juntou 40 mil manifestantes, segundo a autoridade policial do município.
Com gritos e faixas, os manifestantes exigiram que os demais partidos alemães mantenham o "cordão sanitário" contra a AfD, um acordo que faz com que as siglas não se aliem direta ou indiretamente à ultradireita no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão.
Merz abre caminho para voto com ultradireita
A crítica dos manifestantes foi dirigida também para o líder da oposição conservadora CDU/CSU, Friedrich Merz, primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto para as eleições de 23 de fevereiro.
Merz tem repetido que seu bloco no Parlamento jamais formaria um governo com a AfD. Nesta semana, porém, ele provocou furor ao sugerir que está disposto a aceitar apoio da ultradireita para passar políticas mais duras contra a imigração, o que indicaria um fim do isolamento da AfD no Legislativo alemão.
Na sexta-feira, Merz afirmou que seu partido vai apresentar propostas neste tema na próxima semana "independentemente de quem concordasse com elas".
"Não olho para a direita nem para a esquerda", disse Merz. "Quando se trata desses assuntos, só olho para frente", afirmou.
O líder da CDU já havia prometido aumentar o número de deportações no país, se eleito, discurso que se acirrou após um ataque a faca em Aschaffenburg, deixar um homem e um menino de 2 anos mortos. O suspeito, um afegão de 28 anos, havia tido seu pedido de refúgio rejeitado, mas permaneceu na Alemanha.
O aceno à ultradireita na pauta migratória fez a candidata à chanceler federal pela AfD, Alice Weidel, publicar no X que "o cordão sanitário caiu". "A CDU e a CSU aceitaram minha oferta para votar junto com a AfD no Bundestag na fatídica questão da imigração", comemorou.
"Nós somos o cordão sanitário"
Os manifestantes que se reuniram em frente ao Portão de Brandemburgo gritavam: "Nós somos o cordão sanitário". Muitas famílias com crianças estavam presentes.
Em Colônia o manifestante Thomas Schneemann, disse que o mais importante para ele era "permanecer unido contra a ultradireita". "Especialmente depois de ontem e do que ouvimos de Friedrich Merz, temos que nos manter unidos", disse Schneemann.
AfD reúne milhares em comício eleitoral
Os protestos ocorreram enquanto a AfD abria sua campanha eleitoral na cidade de Halle, na região central do país, onde 4.500 pessoas eram esperadas.
No comício, Weidel recebeu novamente o apoio do bilionário Elon Musk, que discursou remotamente.
Musk disse que esta eleição é incrivelmente importante. "Acho que ela pode decidir todo o destino da Europa, talvez o destino do mundo", afirmou.
Ultradireita recebe um milhão de euros de doador "anônimo"
A AfD abre seu primeiro comício eleitoral na mesma semana em que afirma ter recebido 999.900 euros (R$ 6,1 milhões) de um doador identificado como Horst Jan Winter, mas que até agora não apareceu publicamente.
As doações a partidos políticos na Alemanha acima de 35.000 euros devem ser publicadas, incluindo o nome do doador, de acordo com a lei eleitoral.
Doações de países fora da União Europeia (UE) acima de 1.000 euros são proibidas, a menos que venham de um cidadão alemão ou da UE ou de uma empresa que seja pelo menos 50% de propriedade alemã.
O tesoureiro da AfD, Carsten Hütter, disse à revista "Der Spiegel" que o doador não é membro do partido e não era conhecido por ele até o momento. Hütter não quis especificar se o dinheiro foi transferido para uma conta pessoal de Winter ou de uma empresa.
Hors Jan Winter informou ao partido que morava em Blankenhain (leste da Alemanha). De acordo com o grupo de mídia alemão RND, o endereço que ele forneceu é uma casa de dois andares que está desabitada há muito tempo.
gq (DPA, AP, AFP, DW)