Milhares de ucranianos se reúnem em Kiev para apoiar Igreja ortodoxa independente

Milhares de ucranianos se reúnem em Kiev para apoiar Igreja ortodoxa independente

Milhares de ucranianos se reuniram neste sábado (15) para apoiar a criação de uma Igreja ortodoxa independente de Moscou em frente a uma catedral onde um concílio deve se pronunciar sobre esta decisão histórica.

Os manifestantes se reuniram na praça de Santa Sofia, em frente à catedral homônima.

“Oremos para que a Igreja ucraniana seja criada hoje”, declarou o presidente ucraniano Petro Poroshenko, que participará da abertura do concílio, ao cumprimentar os manifestantes.

“É um acontecimento muito importante para mim, nosso povo espera isso há tempos”, declarou à AFP um dos manifestantes, Mykhaïlo Khalepyk.

Os representantes das confissões ortodoxas ucranianas estão reunidos no “conselho de unificação”, a fim de implementar a decisão histórica do Patriarcado de Constantinopla, que em outubro autorizou a Ucrânia a ter sua própria Igreja, depois de 332 anos dependente de seu poderoso vizinho.

A decisão causou desconforto na Igreja russa, que denunciou um “cisma” e rompeu seus laços com Constantinopla. O ramo ucraniano continua a gozar de considerável influência e conta com um grande número de paróquias em todo o país.

Na ausência da Igreja leal a Moscou, que rejeitou o conselho “ilegal” deste sábado, este vai reunir membros das duas formações restantes: o Patriarcado de Kiev, proclamado em 1992, e a pequena Igreja chamada autocéfala.

As autoridades ucranianas consideram este concílio, que ocorre no quinto ano de uma crise sem precedentes entre Kiev e Moscou, como uma questão de “segurança nacional”.

Em março de 2014, a Rússia anexou a península ucraniana da Crimeia após a chegada ao poder de autoridades pró-ocidentais em Kiev. Logo depois, teve início um conflito no leste do país entre separatistas pró-russos e as autoridades ucranianas, que deixou mais de 10.000 mortos.

No final de novembro, a situação se deteriorou ainda mais quando a Rússia apreendeu três navios militares ucranianos na costa da Crimeia, acusando-os de entrar ilegalmente em suas águas territoriais.

Esta semana, os serviços de segurança ucranianos (SBU) disseram que temem atos de provocação da Rússia durante o concílio, enquanto o chefe dos SBU, Viktor Kononenko, pediu aos ucranianos que “evitem se envolver em qualquer ato político”, para que “o agressor [Rússia] não possa usá-los para enfraquecer ou desacreditar nosso país”.

Por sua vez, o patriarca ortodoxo russo Kirill denunciou “perseguições” contra o clero e os ucranianos sob a tutela de Moscou, em uma carta ao papa e à ONU.

Na carta, acusou Kiev de pressionar seu clero para incorporar a nova formação, enquanto a polícia revistou recentemente várias igrejas do Patriarcado de Moscou.

As autoridades ucranianas garantiram que as paróquias estarão livres para decidir se vão querer ou não aderir à nova Igreja independente, a fim de evitar uma “guerra religiosa” no país.

O concílio deste sábado também deverá eleger o novo primaz da Igreja. O patriarca de Kiev Filaret, de 89 anos, cuja excomunhão foi levantada em outubro de Constantinopla, aparece como favorito.